sábado, 10 de dezembro de 2011

Neo-Separatismo: a divisão de Afuá


Surfando na pororoca
da divisão do Pará,
os caboclos ribeirinhos
pegaram corda por lá
e avivaram sonho antigo
que agora em versos lhes digo:
a divisão do Afuá.

A turma pró-divisão
chegou pronta pra bater
usando o velho argumento:
“Dividir para crescer!”
E, nesse hilário teatro,
em vez de um, seriam quatro
municípios, a saber:
Na campanha eletrizante
feito peixe poraquê,
cada parte caprichava
no tro-ló-ló, tre-le-lê.
E essa divisão patética
seria na ordem alfabética:
Afu-Á, B, C e D.

O Afu-Á remanescente
seria das bicicletas,
no Afu- B , só Jet-skis,
no Afu- C , motocicletas.
No Afu-D... Oh! Deus do céu,
deu-se o maior escarcéu
com piadas indiscretas.

O padre, no seu sermão,
conclamou filhos e pais,
mostrando, nesse processo,
perdas e danos morais
e afirmava, sem desdém:
– Até Afucê, tudo bem,
mas Afudê, já é demais!

E nesse chove-não-molha,
deu-se o maior bafafá
entre os neo-separatistas
e os puritanos de lá
que incitavam a multidão
e bradavam: – Não e não!
Ninguém divide o Afuá!!!

**
Antonio Juraci Siqueira
caboclo afuaense juramentado.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A música paraense por Nelson Motta

"Tenho especial encanto por esse pessoal de Belém. O novo disco da Gaby Amarantos é absolutamente sensacional. Lia Sofia também é uma cantora e compositora muito boa de lá. E, na guitarrada, Felipe Cordeiro é um cantor e compositor muito bom. É carimbó, com bom uso daquele tecladinho safado de tecnobrega. Tem também a Gang do Eletro. Ouvi também o novo disco da Marina de la Riva e acho que ela encontrou o caminho com um repertório latin chic. Ela não é cool."

Nelson Motta
IstoÉ Gente nº 623, coluna Diversão & Arte



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Livra-me da Autossuficiência

Israel Belo de Azevedo

Livra-me, Senhor, dos autossuficientes,
que palitam suas conquistas
que vão enfileirando em douradas listas.

Livra-me, Senhor, dos habitantes
dos castelos das certezas brilhantes
que não dão lugar à dúvida,
a dúvida nenhuma, sob hipótese alguma.

Livra-me da influência
dos que cultuam sua própria inteligência,
que afagam no temor de não ver reconhecida,
enquanto sorriem para aqueles que põem aquém da sua corrida.

Senhor, meu eu ajoelhado te clama:
livra-me, a mim principalmente,
de ser o que condeno, porque a tentação me pressiona.


---
reproduzido com autorização


sexta-feira, 22 de julho de 2011

A vida dos 15 aos 30

Quando se é adolescente, a vida parece uma grande questão que precisa ser resolvida com urgência. Os amigos, momentos, nada se pode perder.

Perto dos 30 anos, a gente começa a descobrir que a vida não é urgente. É um futuro que a gente constrói a cada amigo ou momento de hoje.

Aos 30 anos, viver é uma arte. O vigor da juventude e a responsabilidade das escolhas. Uma boa estrada já trilhada, e outra longa a trilhar.

Bobagem querer parecer a idade que não se tem, querer ser o que não se é. Chega um dia em que a gente descobre que não pode fugir do óbvio.

Como disse Carlos Drummond de Andrade:
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

A todos um ótimo dia.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

13º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens


13º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens - www.fnlij.org.br

Centro de Convenções Sul América
Av Paulo de Frontin, 1 – Centro, Rio de Janeiro, RJ

Metrô:
Estação Estácio – Linha 1
Estação Cidade Nova – Linha 2

Estacionamento no local
Ingresso - R$4

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sobre missão, música e brasilidades - carta aos meus colegas do STBSB

Caros teólogos, pastores, professores e missionários,

Acredito que só vamos aprender a falar do evangelho à alma do brasileiro quando conhecermos a "nossa" cultura (do nosso povo). E não se conhece cultura sem conhecer a música, a produção literária, as comidas, as lendas, os mitos, os medos, as histórias. A gente não precisa ter medo da nossa cultura. Ela pode ser estranha. Mas é estranha pra nós, criados em outra cultura, evangélica-norte-americana.

Ainda precisamos ir muito aos sertões das secas e das águas do Brasil, ouvir o carimbó e as toadas de boi amazônicos, o baião e os xotes do nordeste, os violeiros caipiras do jequitinhonha, do Pantanal, das terras altas da caatinga baiana... coisas que o Brasil mal conhece, regiões de produção cultural fenomenal... e que muito menos o Brasil evangélico conhece, pois geralmente não olha pra dentro do Brasil, e sim para fora.

Além disso, a gente mora dentro de uma cidade que "se basta". Rio de Janeiro, umbigo do Brasil. Sinceramente... a gente tá aqui dentro e não faz a menor ideia do que seja o Brasil. Pra quem não pretende sair deste mundo aqui, pra que conhecer mais do que isto? Beleza. Pra quem tem planos de ir morar fora do Brasil, posso concordar que o processo de inculturação deva acontecer de outra forma. Então pra que conhecer o Brasil de verdade, não é mesmo? Rs.

Mas pra quem pretende se dizer brasileiro, samba é só o começo da caminhada, galera...

Graças a Deus, depois que vim morar no Rio, aprendi a gostar de samba. E vou confessar que eu não sabia apreciar a beleza negra, porque em Belém a maioria da população é de brancos, pardos, índios e japoneses [sic]. Ainda bem que meus conceitos mudaram e hoje eu namoro uma mulata linda que Deus me deu... ô bênça! Como disseram Martinho da Vila e Zeca Baleiro: "Salve a mulatada brasileira! Salve! Salve!"

Recomendo 3 músicas brasileiras – de verdade rs – compostas por cristãos evangélicos, um deles judeu. Um baião, um carimbó e um canto "sertanez". Desejo que elas os inspirem, como inspiram a mim sempre que ouço. Se quiserem, podem ouvir e acompanhar as letras nos links:

Antes que Seque a Flor
Céu na Boca (Brasília, DF) - baião (inspirado em Eclesiastes 11-12)

Esta Cidade
Arlindo Lima e Tallita Barros (Tucuruí, PA e Belém, PA) - carimbó (inspirado no texto do profeta Sofonias)

Campo Branco
Elomar Figueira de Mello (Vitória da Conquista, BA)

Um forte abraço.
André Coelho

terça-feira, 19 de abril de 2011

Canção dos Trinta

Eis um dia novo
que irrompe entre os casarões
e os jardins fechados
de uma rua antiga.

Eis semitons sutis
de trinta (e um) abris,
pastéis-cor-de-giz
sobre o velho quadro-negro.

E tu, que me abris
o portão enferrujado,
não notas que cresce ao lado
aquela horta de alecrim,
manjericão e anis?

Observa seu olor,
seu sabor, sua prumada;
e retoma a caminhada.

Eis que vem, vem bem perto,
uma chuva no deserto
dessa cidade em chamas,
após outro longo verão.

Eis um monte.
Uma cruz avermelhada.
Olhares descrentes;
medrosos; ausentes.
Cabeça curvada.
Um grito.
E o nada.

Eis o dia do silêncio.
O dia da saudade.
Dia do pensar
e dia do pesar.

Eis um dia novo
que irrompe por entre as frestas
e a pedra lavrada
de uma tumba antiga.

Eis um portão aberto,
uma pedra removida,
a janela escancarada.

Eis um hoje e amanhã da caminhada.

Eis uma criança que volta a sorrir,
a sanfona que volta a chorar,
boa erva que torna a brotar,
uma casa que torna a se abrir.

Eis um filho,
trinta passos dados,
velho caminho, onde muitos antes.
Muitos antes andaram,
mas caminho novo, dia novo
como é novo todo dia.

Eis um menino,
um papel e uma caneta.
Trinta anos, trinta abris
e mais um poema perneta.

--
Rio de Janeiro
19 de abril de 2011


sábado, 26 de março de 2011

Visão do horror e visão da esperança: o desastre de Fukushima e as visões de Ezequiel

O mundo foi tomado há exatos 15 dias pela notícia de um forte terremoto seguido de tsunami no nordeste do Japão – talvez o mais terrível terremoto da história desse país.

A polícia japonesa contabilizou até hoje 10.151 mortos e mais de 17.053 desaparecidos como conseqüência do desastre natural que abalou a região e provocou ainda um grave acidente nuclear em um dos reatores nucleares da usina elétrica da província de Fukushima.

Os comentários em relação ao acidente têm sido os mais diversos. Há quem atribua a tragédia a uma reação da natureza à ação devastadora do homem no planeta Terra. Há quem a considere um castigo divino, ou um sinal do fim dos tempos. Há quem a tome como apenas mais um evento da natureza que, infelizmente, atingiu uma usina nuclear.

Leituras e leituras sobre a catástrofe não irão vencer a visão de um homem que está dirigindo o seu carro sobre uma rodovia e se vê repentinamente tomado de todos os lados por um tsunami devastador. Também não darão respostas ao coração da mãe que viu sua casa ruir, seus filhos perderem-se no entulho da onda gigante e que agora está sozinha, sem abrigo e sem família.

A pergunta inevitável que, precoce ou tardia, vem à mente é “Onde estava Deus quando isso aconteceu?”. Será que foi Deus quem moveu a natureza contra o próprio homem, como se fosse um castigo? Ou será que Deus apenas estava de braços cruzados, observando enquanto tudo acontecia, sem tomar atitude alguma? Será que Deus está cego ao sofrimento do homem?

A vida e o ministério do profeta-sacerdote Ezequiel podem-nos ser muito inspirativas nesse sentido. Ezequiel é tido hoje pelos cristãos como um dos maiores profetas da antiguidade e pelos judeus como um dos principais sacerdotes a estabelecer os pilares da religião judaica. De qualquer forma, foi um homem que soube conciliar o ministério profético (oráculos divinos, denúncia de injustiça social, chamada ao arrependimento, etc.) com o ministério sacerdotal (ensino, serviço do templo, separação entre sagrado e profano, etc.).

Mas o que dá a Ezequiel as “credenciais” que o tornam relevante ao falarmos de catástrofes são as visões descritas em seu livro. Sobre as narrativas das visões de Ezequiel paira sempre uma atmosfera de horror sagrado diante do mistério do divino. A visão do vale de ossos secos – que, ao sopro divino, se reanimam, começam a criar juntas e medulas, músculos, carne e voltam à vida, formando um enorme exército – é um bom exemplo.

Ao homem a quem Deus deu visões de horror, certamente também ele deu respostas e palavras de conforto e esperança que vencem o horror, vencem o mistério que é a própria atuação divina e tangem a alma que está estarrecida diante de uma tragédia.

Refletindo sobre as perguntas acima, encontramos algumas respostas no livro de Ezequiel e em outros livros da Bíblia que nos permitem fazer as seguintes afirmações:

1. Deus não utiliza a natureza contra o homem

a) o homem é quem manipula a natureza a seu desfavor: Em primeiro lugar, Deus não utiliza a natureza contra o homem, mas é o próprio homem, a quem Deus imbuiu de um espírito criador, quem manipula e modifica a natureza, às vezes a seu favor, às vezes a seu desfavor;

b) o homem é a coroa da criação, mas também está sujeito à natureza: O livro do Gênesis conta-nos sobre quando Deus criou o mundo. Deus criou o homem e o colocou como coroa sobre toda a criação. Das criaturas de Deus, o homem é a mais complexa, a mais inteligente e a única que Deus criou à imagem e sua semelhança. Porém, ainda que seja a “coroa” da criação de Deus, o homem está sujeito à natureza. O homem não consegue evitar, por exemplo, que o tempo passe – o tempo é definido pela natureza dos astros. O homem também não pode evitar que o outono passe e venha o inverno, muito menos pode evitar o movimento das marés, o ciclo das águas, o dia e a noite. A natureza está em constante movimento, e isso faz parte de sua saúde; não é uma catástrofe. O homem precisa admitir que também está sujeito a esse movimento da natureza em torno de si.

c) Deus tem um pacto de vida com homem, de não destruí-lo por meio das águas: Vamos mais uma vez ao Gênesis. A Bíblia conta que, certa vez, Deus olhou para a humanidade, viu a sua maldade e resolveu destruir todos os homens, preservando a vida de apenas uma família, a de um homem chamado Noé, que sobreviveu porque construíra um barco, conforme a ordem de Deus. Ao final dessa narrativa, Deus coloca no céu o arco-íris e faz um pacto com Noé, de que nunca mais irá destruir a humanidade por meio das águas. Por esse motivo, não devemos pensar que um desastre como a morte de milhares de pessoas por um tsunami tenha sido causado por Deus.

2. Deus não está de braços cruzados

a) a natureza anuncia a cada dia o mover das mãos do Senhor: O Salmo 19 nos diz que o céu anuncia a obra das mãos de Deus, e que um dia fala sobre isso ao outro dia, assim como uma noite fala à noite seguinte. Isso é uma metáfora poética para nos afirmar que a criação é a primeira revelação de que Deus existe e de que ele não está de braços cruzados – pois dá a cada dia ao homem o calor do sol e o descanso da noite. Deus está, portanto, em constante movimento para abençoar o homem. Deus não está, de forma alguma, sentado em uma poltrona, como se fosse um espectador numa platéia-de-uma-pessoa-só, assistindo ao espetáculo da vida humana (tragédia ou comédia grega?), comendo pipoca e tomando guaraná.

b) o tempo de Deus não é o nosso tempo: O apóstolo Pedro (2Pe 3.8) afirma que, para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia. Nós, seres humanos, estamos limitados, “presos” à contagem de dias do planeta Terra. Mais uma vez, Deus não vê passar o mundo como passa uma escola de samba que atravessa a avenida Marquês de Sapucaí e tem um tempo cronometrado para cumprir seu papel. Deus vê todos os tempos: começo, meio e fim. E novo começo. E Deus já preparou aquilo que ainda há de vir.

c) Deus pede que o homem tenha atitude: Deus deseja que o homem movimente-se no sentido de aproximar-se dele. É necessária uma constante renovação interior: é preciso um coração novo e um espírito novo (Ezequiel 18.31).

3. Deus não está cego

a) Deus vê o nosso sofrimento: Já que estamos falando em sofrimento, que tal falarmos em pecado? Sim, o pecado também leva ao sofrimento, a um sentimento enorme de culpa e a um distanciamento de Deus. Deus vê o nosso pecado? Sim, com certeza, e disso não temos dúvida. O próprio Espírito nos testifica de que, quando pecamos, estamos em um caminho errado e que Deus tem conhecimento disso. Da mesma forma que Deus vê o nosso pecado, ele vê o nosso sofrimento.

b) Deus não tem prazer no nosso sofrimento: A Bíblia afirma em Ezequiel 18.32 que Deus não sente prazer com a morte de ninguém, portanto Deus não tem prazer no nosso sofrimento, assim como não teve prazer na morte daqueles quase 11 mil homens no Japão.

c) O homem tem responsabilidade pelo seu pecado: Embora um terremoto seguido de tsunami seja uma ocorrência comum na natureza e provavelmente não esteja relacionada à ação do homem ou de Deus, não podemos fechar os olhos ao fato de que, com o nosso pecado, “cavamos a nossa própria cova”, como dizia um professor meu na faculdade de Arquitetura. Quando pecamos, ofendemos a Deus. Mas, muito mais do que isso, o pecado nos coloca distantes dele. Quando pecamos contra o nosso próximo, o pecado nos distancia do próximo.

E quanto à natureza? Existe pecado contra a natureza, contra a criação? Certamente, quando pecamos contra o planeta terra, nos distanciamos da natureza e de seu Criador, e apressamos mais um pouquinho o dia da nossa morte, ou talvez da morte de alguém próximo a nós. É necessário que cada um assuma a responsabilidade que tem sobre seu próprio pecado (Ez 18.1-4).


Uma visão da esperança

Na visão do vale de ossos secos narrada por Ezequiel, aquilo que era horror se converte em vida. Deus não deseja que a humanidade torne-se e permaneça como um monturo de ossos ressequidos e sem vida alguma. Deus não deseja que o homem permaneça afastado dele (que é a morte espiritual).

O profeta Ezequiel, em seu livro, anuncia pela primeira vez um Messias que será um “pastor” (Ez 34.23; 37.24), em vez de um “rei”. Anuncia que a glória de Deus voltará a preencher o seu santo Templo (Ez 43) e que o próprio Deus dará ao homem novo coração e novo espírito (Ez 11.19; 36.26). Deus estabelecerá uma nova aliança, mas não para recompensar o povo por sua “volta” para ele, e sim por pura benevolência e graça (16.62-63).

O Deus que Ezequiel anuncia é um Deus que concede perdão ao homem em graça. É um Deus que abomina o mal e o pecado, mas um pastor que cuida do seu rebanho como quem cuida de ovelhas que não sabem por onde devem andar. Um Deus que constrói um Templo novo, estabelece uma nova aliança, dá novo coração e novo espírito.

O Apocalipse de João nos fala nesse mesmo Deus, que um dia irá criar novo céu, nova terra. Um Deus que, em pessoa, enxugará dos olhos dos homens toda lágrima. E não haverá mais morte, nem choro, nem clamor, nem dor. Porque Deus fará novas TODAS as coisas (Ap 21.1-7).

Se no tempo presente não temos respostas, se a morte de mais de 10 mil pessoas em um único dia por conta de um desastre natural nos assusta, devemos descansar a nossa alma em Deus, sabendo que estamos ainda no tempo das “primeiras coisas” (Ap. 21.4), que um dia irão passar. Devemos permanecer seguros de que, em Cristo, a morte será apenas a separação do nosso corpo, pois na eternidade iremos habitar com ele.
Encerro com uma poesia, que é uma música, de Vital Lima, chamada “Sobreviventes”:



As cidades sabem
que as explosões
podem destruir as casas,
soterrar os sentimentos,
nossas canções.

Mas as cidades também sabem
que um coração,
um coração teimoso
reconstruirá escombros
e as nossas canções.

E que há de florescer outra realidade
a plantar-se entre os amantes
e sobreviventes.


sábado, 12 de março de 2011

sobre a vida (Leonardo Boff)

Jesus não veio para inventar uma nova religião, mas para trazer uma nova vida. Então vocês têm que aproveitar a vida, amar a vida, amar a vida em comunidade. [...] A vida está ameaçada porque não é amada.

Leonardo Boff

Rio de Janeiro
27 de outubro de 2008


sobre derrota e vitória (Leonardo Boff)

Nós fomos derrotados, mas não estamos vencidos. Nossa árvore talvez morreu, mas ficou a semente. Eu me sinto uma semente. A semente tem todo o vigor da árvore. E vamos ao encontro do derrotado, o vencido, o ressuscitado: Jesus, o Cristo cósmico, filho de Deus. Ele foi o primeiro derrotado, que foi ressuscitado para nos dar esperança da libertação.

Leonardo Boff

Rio de Janeiro
27 de outubro de 2008


sobre Roma (Leonardo Boff)

É fácil tornar-se ateu em Roma. Em Roma, eles estão mais próximos dos palácios dos césares, mais longe do barquinho de Pedro. Eles estão mais próximos dos palácios e mais afastados de Deus.

Leonardo Boff
Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2008


sobre a verdade (Leonardo Boff)

Quem possui a verdade está condenado ao fundamentalismo.

Leonardo Boff

Rio de Janeiro
27 de outubro 2008


sobre a libertação (Leonardo Boff)

A liberdade nunca é dada, ela deve ser conquistada. Por isso: libertação.

Leonardo Boff

Rio de Janeiro
27 de outubro de 2008



sobre Deus (Rubem Alves)

Uma vez me perguntaram se eu acredito em Deus. Eu respondi: "A saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu". Chico. Qual é a mãe que ama mais? É que arruma o quarto para o filho que vai voltar, ou a que o arruma para o filho que nunca vai voltar?

Rubem Alves

Rio de Janeiro
27 de outubro de 2008



sobre altares (Rubem Alves)

Eu construo meus altares à beira do abismo. O abismo continua escuro e silencioso; a despeito disso, eu construo meus altares – altares de música e de poesia. Pois o fogo me aquece e me ilumina.

Rubem Alves

Rio de Janeiro
27 de outubro de 2008


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O corpo: local de adoração, graça e saúde*

André de Barros Coelho

Que os cuidados com o corpo são um ensinamento bíblico desde o Antigo Testamento, disso não há dúvidas. Vale sempre lembrar as diversas leis instituídas sobre a qualidade dos alimentos, o cuidado e asseio diante de diversas doenças, os cuidados com a casa e outros diversos preceitos (conferir Levítico 11-15; Deuteronômio 12.15-32, 14.3-21, 22.13-23.14), muitos dos quais são seguidos até hoje por diversos grupos religiosos.

Também não é novidade que o nosso corpo é templo do Espírito Santo. O Novo Testamento afirma que o Espírito de Deus habita em nós, e que cada um de nós é templo (1Coríntios 3.16, 6.19), o que significa, entre outras coisas, que nossa vida e nosso corpo são um local de adoração a Deus, lugar de sacrifício e de graça.

OS HOMENS MORREM MAIS DO QUE AS MULHERES  Desde que o Governo Federal começou a veicular a campanha da Política Nacional de Saúde do Homem, há quem se pergunte: – Pra quê tanto alarde? Até que ponto isso tudo é necessário?

É o próprio Ministério da Saúde quem se adianta e responde. No Brasil, a cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens (57,8%). Entre os jovens com 20 a 30 anos de idade, o número de homens sobe para quatro a cada cinco mortes. Além disso, os homens vivem em média sete anos a menos que as mulheres.

A taxa de mortalidade por câncer (especialmente de pele e de próstata) entre a população do sexo masculino cresceu quase 200% entre 1980 e 2005. Além do câncer, entre as principais causas de morte em 2005, estão as doenças isquêmicas do coração (entre elas o infarto do miocárdio), doenças cerebrovasculares, homicídios, suicídios e quedas acidentais.

Mesmo que não sejam surpresa, esses não são os únicos números que fazem soar o alarme de cuidado!... Dentre as causas de internação de homens de 15 a 59 anos nas unidades do SUS em todo o Brasil no ano de 2006, estão em primeiro lugar as diferentes manifestações de violência (mais de 800 mil casos) e os transtornos mentais e comportamentais (quase 370 mil casos).

O HOMEM BRASILEIRO CUIDA POUCO DE SI MESMO – Os números da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU-SP) mostram que 50% dos homens vai ao médico por pressão da esposa ou namorada. O preconceito (quando o homem se acha invulnerável a doenças) e o medo (quando ele receia receber uma má notícia, por exemplo) estão entre os fatores que reduzem a ida dos homens ao médico em relação às mulheres. “(...) os homens, por uma série de questões culturais e educacionais, só procuram o serviço de saúde quando perderam sua capacidade de trabalho.”, afirma José Gomes Temporão, ministro da Saúde.

As pesquisas do Ministério da Saúde revelam ainda que, na hora de fazer o planejamento familiar, o peso continua a recair sobre as mulheres. Entre 2007 e 2008, o número de mulheres que se submeteu a cirurgias de esterilização foi o dobro do número de homens.

Para completar, o sedentarismo, um dos grandes fatores de risco para doenças crônicas, alcança hoje 26,3% da população brasileira (29,5% entre os homens). Na terceira idade, o número ultrapassa os 50%.

Na opinião do secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, os homens brasileiros “foram educados para não chorar e manter a couraça de que são ‘machos’. Também alegam que são os provedores e têm medo de que se descubram doenças, mas hoje as mulheres são tão provedoras quanto eles”.

O HOMEM É PROVEDOR – Ainda que o homem não seja mais a única âncora financeira nas famílias brasileiras, especialmente nos grandes centros urbanos, dividindo esse posto com as mulheres, é um princípio bíblico que o homem seja, da casa, o provedor de amor.

Segundo o conselho de Paulo às comunidades cristãs de Éfeso e Colossos (Efésios 5.25,28; Colossenses 3.19,21), o homem deve amar a sua mulher e não se irritar com ela. Não apenas isso, precisa amá-la como ama ao seu próprio corpo. Mais ainda, o pai não deve irritar a seus filhos.

Cuidar para que a esposa e os filhos tenham saúde física e emocional é um papel do homem. O amor que um homem fornece à sua esposa vai ser percebido pelos filhos na maneira como a mãe cuida deles. O amor que um pai fornece aos seus filhos vai torná-los mais seguros de que são amados e de que estão protegidos. Da mesma forma, o amor que o homem fornece à sua esposa e filhos, bem como o amor que um jovem fornece a seus pais e irmãos, pode reverter-se em amor e cuidado também deles sobre a sua própria vida.

O fato de que, nos dias de hoje, a mulher cada vez mais participa das finanças do lar (inclusive como provedora de sustento), deve também abrir espaço para que o homem cuide de si mesmo de forma mais equilibrada – seja exercitando o corpo, seja valorizando o tempo de repouso, seja cuidando de sua mente e suas emoções.

O REPOUSO E O LAZER NA BÍBLIA – É comum que o muito trabalho torne-se, na vida do homem, uma espécie de areia movediça. O autor de Eclesiastes afirma que, após considerar todo o trabalho que ele, com fadiga, havia feito, percebeu que tudo era vazio de sentido, como se ele estivesse correndo atrás do vento (Eclesiastes 2.11). Quanto mais trabalha, e quanto mais espaço conquista, mais espaço o homem quer, de forma que o equilíbrio entre o sustento familiar e o repouso necessário – duas necessidades – às vezes foge ao controle do próprio homem.

No Israel antigo, havia um princípio: separar um dia por semana para o descanso. Certamente todos sabemos que, segundo o relato bíblico, quando Deus criou o mundo, o fez em seis dias e descansou no sétimo (Gênesis 2.2-3). O Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, traz-nos diversas posturas quanto ao repouso do corpo (Êxodo 35.1-3), assim como quanto ao repouso da terra em que se cultivem animais e plantas (Levítico 25.1-17).

De acordo com essas posturas, o homem deveria trabalhar seis dias e descansar no sétimo, santificando esse dia ao Senhor. Também deveria o homem, após trabalhar durante seis anos, separar o sétimo ano para o descanso solene da terra. Tudo isso nos mostra que, para o povo judeu, o descanso era sagrado.
Também o livro de Eclesiastes nos traz conselhos muito especiais. Na compreensão do sábio, autor do livro, é um dom de Deus que o ser humano possa comer, beber e desfrutar o bem de todo o seu trabalho. Afinal, alegrar-se em suas próprias obras é a recompensa que o homem tem pelo seu próprio trabalho, dado por Deus (Eclesiastes 3.9-15,22).

O equilíbrio na vida é valorizado tanto pelo sábio, que propõe a moderação em tudo (Eclesiastes 7.15-22), quanto pelo apóstolo Paulo, que propõe a paciência, a mansidão e o domínio próprio como fruto do Espírito Santo, que habita no crente (Gálatas 5.22-23).

Dar ao corpo o tempo de descanso de que ele necessita e dar à mente o lazer que também lhe é necessário devem ser imperativos do homem, especialmente o homem cristão. Na conclusão de seu livro, o sábio de Eclesiastes afirma que Deus pedirá contas a cada homem pela maneira como tiver aproveitado a sua juventude (Eclesiastes 11.9-10).

Os números do Ministério da Saúde mostram que a taxa de suicídios entre os homens brasileiros cresceu, nos últimos 30 anos, aproximadamente 40% e que quase 370 mil homens foram internados em 2006 por transtornos mentais e comportamentais, o que indica que o homem brasileiro não está doente apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

Diante disso, não há dúvidas de que é uma tarefa do homem cristão andar na contramão desses números, fazendo de seu corpo um local de adoração e graça, e de sua vida e seu lar um lugar de saúde.


* Texto publicado na revista Homem Batista, primeiro trimestre de 2010.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Os 30 do André

Isabel Rocha

Que bela idade para se ter.
Boa idade é aquele que vivemos no momento que a temos.
Mas trinta é trinta.
Abandonamos as bobagens, enfim, da juventude e nos preparamos para a maturidade.
O que não se resolveu, resolverá por si mesmo.
As opções estão concluídas, somos o que somos e ponto.
Nada mais de velhos dilemas.
Nada mais de bagagem inúteis.
A casa está concluída. Sólida ou não.
Somos muito jovens ainda para viver plenamente.
Corpo e a alma unidos enfim
(depois se separam de novo, mais por causa do corpo que não vai acompanhar a alma).

A lentidão do tempo da infância e juventude não existe mais.
O tempo urge e começa a dar avisos.
Os anos voam e escoam por entre nossos dedos.
Num piscar de olhos chegam os quarentas e INTAS nunca mais.
Só ENTAS, cinquentas, sessentas, oitentas.....

Então aproveite cada minuto.
Se realize e se deixe realizar.

Não sei se dará para ir...
afinal o corpo aqui não acompanha mais os desejos da alma
e a alma já não consegue ter tantos desejos assim
me refiro ao doutorado que consome o pouco que sobra de energia do corpo e da alma.

MUITOS BEIJOS no meu eterno Garoto!
Da moça, não tão eterna
Isabel


Ao Sambaqui, eterna gratidão pela amizade e inspiração.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Bem Belelém! Viva Belém!

Manuel Bandeira

Bembelelém
Viva Belém!

Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial
Beleza eterna da paisagem

Bembelelém
Viva Belém!

Cidade pomar
(Obrigou a polícia a classificar um tipo novo de delinqüente:
O apedrejador de mangueiras.)

Bembelelém
Viva Belém!

Belém do Pará onde as avenidas se chamam Estradas:
Estrada de São Jerônimo
Estrada de Nazaré

Onde a banal Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades do Brasil
Se chama liricamente
Brasileiramente
Estrada do Generalíssimo Deodoro

Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.

Terra da castanha
Terra da borracha
Terra de biribá bacuri sapoti
Terra de fala cheia de nome indígena
Que a gente não sabe se é de fruta pé de pau ou ave de plumagem bonita.

Nortista gostosa
Eu te quero bem.

Me obrigarás a novas saudades
Nunca mais me esquecerei do teu Largo da Sé
Com a fé maciça das duas maravilhosas igrejas barrocas
E o renque ajoelhado de sobradinhos coloniais tão bonitinhos

Nunca mais me esquecerei
Das velas encarnadas
Verdes
Azuis
Da doca de Ver-o-Peso
Nunca mais

E foi pra me consolar mais tarde
Que inventei esta cantiga:

Bembelelém
Viva Belém!
Nortista gostosa
Eu te quero bem.


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Para não dizer que esqueci dos 395 anos completos da minha cidade quente, chuvosa e mangueirosa (e claro que não me esqueci, taí o Twitter que não me deixa mentir, rs!), vai aqui este post, que é um velho poema do "Manu" (Manuel Bandeira), poeta brasileiro, filho da Modernidade, e que teve o grande privilégio de conhecer a Belém da Borracha, filha dos áureos tempos da alta economia extrativista do látex amazônico.

Claro, ele não esteve em Belém no final do século XIX, mas pôde, ainda nos anos 30 e 40 do século XX, conhecer a cidade que um dia já foi capital da colônia portuguesa do Grão-Pará e que foi também a segunda cidade mais rica do Brasil no final do século XIX, ao lado da capital Rio de Janeiro.

Mário de Andrade também conheceu essa Belém aí, mas isso vale outro post.

E como será a minha Belém dos 400 anos?

A ela, Rainha das Marés (salve!), minha eterna homenagem a reverência.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Salmo Brasileiro

André de Barros Coelho

Das profundezas clamo a ti, Senhor.
Meu coração está coberto de nuvens negras,
como as planícies da Amazônia.
Meus olhos escondem tantas lágrimas
que os mais profundos rios não poderiam imaginar.
Minha garganta está mais seca que o chão dos sertões.
E eu nem mesmo sei explicar o que se passa comigo.

Só tu, Senhor, conheces meu coração,
pois da argila o fizeste,
antes que ele pulsasse pela primeira vez.
E agora por que não me respondes?

Chora, minha alma, e espera pelo Senhor.
Pois sabes que ele um dia vem
inundar toda esta terra seca e morta dentro de ti.
Clama, das tuas profundezas, e ele te ouvirá.

Porque só ele é a tua força.

Estácio, Rio de Janeiro, RJ
8 de janeiro de 2011


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