terça-feira, 10 de agosto de 2010

A vida dos Incas: sociedade e cotidiano





Os quíchuas eram índios americanos dos andes sobre os quais os incas exerciam seu domínio. A pesar da notória diferença entre as tribos, há algo de comum entre elas. Os quíchuas eram — ou melhor, são, posto que ainda existem uns cinco milhões destes aborígenes — de mediana estatura, robustos e de mão grande, pulso pequeno e peito de altura desproporcional — desenvolvido para respirarem a grandes altitudes — pernas compridas e longos pés. Têm os pulmões salientes, narinas largas e olhos pequenos.

As mulheres são mais baixas e de constituição mais delicada, porém sua fragilidade é só aparente, posto que são capazes de realizar os trabalhos mais pesados; dão à luz e voltam a trabalhar no campo ao cabo de vinte e quatro horas. Muitas dessas mulheres possuem traços delicados; Algumas são consideradas belas; pelo menos assim o pareceram aos primeiros espanhóis que casaram com elas. Os primeiros retratos feitos delas pelos espanhóis mostram fisionomias muito delicadas, e um cronista, ao falar dessas mulheres escreveu: "As mais belas e bem apessoadas de todas que já vimos nas índias (...) Sumamente charmosas e bem conformadas"

Os peruanos têm uma grande resistência física, ao cabo de séculos vivendo na escassez e oxigênio dos andes, seu corpo se desenvolveu de tal sorte que podem realizar todas as atividades normalmente. Seu peito e seu pulmão são super desenvolvidos, de modo que a elevada altitude não lhes afeta a respiração.

Assim, este homem, resistente, incansável, robusto e adaptado pela natureza, constitui a ampla base da pirâmide social que foi o Império Incaico.

Era classificado como hatun-runa ou puric, como trabalhador fisicamente bem dotado; pertencia a uma comunidade territorial e se considerava um elemento indispensável na estrutura piramidal e decimal que foi o Império Inca.


Usavam um vestido que era como uma versão abreviada do traje de noite da época vitoriana inglesa: Um pano de lã com um buraco para sacar a cabeça, as bordas eram costuradas, deixando-se amplos cortes para sacar os braços. Era uma roupa simples e sem pretensões. Recebia o nome de onka e era feita de lã de alpaca. Também usavam um pedaço de lã nos ombros, yacolla, quando fazia frio.

A última peça de seu vestuário era uma espécie de cueca que consistia em uma faixa de lã que passava por entre as pernas e era amarrada na cintura; chamava-se chumpi. Começavam a usar esta peça quando completavam quatorze anos.

Assim pois, uma cueca, uma túnica e uma rústica capa constituíam todo o vestuário que o índio dispunha para cobrir seu corpo no frio clima dos Andes. Quando trabalhavam no campo, limitavam-se a prender suas longas cabeleiras com cordões de lã coloridos. Quando faziam uma viagem ou iam a uma festa, usavam um penteado característico, que o distinguia dos outros companheiros. Nas grandes solenidades, usavam túnicas mais largas, que chegavam aos joelhos, em que ele e sua esposa ostentavam o máximo de seu talento e habilidade; geralmente usavam sandálias.

A vestimenta da mulher também era simples; consistia em uma larga peça retangular de lã de alpaca, chamada de anacu, que passava pela cabeça, era grande o suficiente para cobrir todo o corpo e se amarrava na cintura. Ia até os joelhos, às vezes até os pés. Também usavam yacolla.

Os homens de prestígio, dentre os quais os governantes curacas, se vestiam de modo similar ao índio comum, porém a qualidade do tecido era suntuosa. Se distinguiam facilmente, se não pela túnica, pelos maciços pendentes, em geral de ouro. O próprio imperador se vestia igual a seus súditos, porém sua túnica era feita com a mais fina lã de Vicuña. Bem como o homem do povo, raramente tirava a túnica. Quando isso acontecia, queimava-lhe, como oferenda ao deus Sol; jamais usavam a mesma túnica duas vezes.

Na idade de vinte anos, esperava-se que o homem se casasse. Os ritos nupciais eram simples. Os noivos se davam as mãos e realizavam a cerimônia de troca de sandálias.

O matrimônio do homem de classe baixa era monogâmico. E dado que era a mulher que lhe preparava o que comer e beber, era um grande desastre para ele a morte da companheira. A poligamia existia apenas para os nobres, o próprio imperador possuía centenas de concubinas. Todas as classes governantes eram praticantes da poligamia.


A casa do lavrador era retangular, sem janelas, feita de pedra recozida do campo e com uma capa de barro; tinha apenas uma entrada, uma porta coberta por uma cortina de lã. Os suportes que sustentavam suas moradias eram feitos de arbustos cortados das montanhas. Essas casas rústicas ainda podem ser observadas em ruínas em Macchu-Picchu. O piso era feito de terra pressionada, coberto com pele de lhama ou de alpaca. Não havia móveis, o índio se sentava sobre o solo. Havia apenas prateleiras, para guardar utensílios de cozinha, e alguns paus fincados nas paredes, para pendurar as roupas e uma grande pedra onde as mulheres preparavam os alimentos. Dormiam no chão, sobre a pele de lhama e sobre uma manta.

A aldeia era planejada de acordo com um plano retangular, segundo se crê, por arquitetos profissionais enviados pelo Estado. Três ou quatro paredes retangulares formavam uma espécie de parede comum. Esse tipo de arquitetura pode ser observado nas ruínas de Ollantaytambo, a uns quarenta quilômetros de Cuzco.

O ciclo da vida cotidiana começava ao raiar do sol, O índio satisfazia sua sede com uma bebida fermentada de nome a'ka, ligeiramente embriagante, espessa, com sabor de malte. Logo o lavrador se encaminhava para os campos.

A família se reunia para tomar sua segunda refeição, geralmente manjares de raiz ou sopa com carne de lhama secada ao sol (chuñu). A refeição do entardecer, o cena, se tomava entre as quatro e cinco da tarde. Os homens se sentavam ao redor da vasilha, colocada em cima de um pano e se serviam com as mãos ou tomavam a sopa em taças de barro cozido. As mulheres sentavam fora do círculo.

As crianças eram educadas desde pequenas para o papel que iriam desempenhar durante o resto de suas vidas. Depois do nascimento, o bebê era lavado em água corrente e, ao quarto dia, colocado em um berço chamado quirau. Não se dava a ninguém um nome individual nos primeiros anos de vida. Os novos seres eram chamados de wawa (bebê). A família celebrava depois uma festa chamada ritu-chicoy (corte do pelo) e o nome permanente não se dava até que a criança chegasse à puberdade.

Aos quatorze anos de idade, o menino usava pela primeira vez a "cueca". Nas classes superiores, isso era acompanhado por uma peregrinação ao lugar de origem do estado inca de Huanacauri, no vale de Cuzco, e pelo sacrifício de lhamas realizados pelos sacerdotes. Em seguida, passava-se o sangue no rosto do garoto, que logo assumia o aspecto de um guerreiro e pronunciava em público um juramento de fidelidade ao Inca. Os meninos de classes superiores recebiam uma educação tradicional, que lhe faria apto para desempenhar, mais tarde funções administrativas.

As meninas também entravam na puberdade mais ou menos ao mesmo tempo, em uma encantadora cerimônia de corte de cabelo. Dava-se a elas o nome permanente. A mulher tinha a oportunidade de abandonar o ayllu e inclusive a classe social em que havia nascido. Se demonstrasse especial talento na arte de tecer, fosse graciosa ou muito bela, poderia ser eleita como "mulher escolhida" (nusta). Nessas condições, era conduzida a Cuzco ou a qualquer outra capital de província de uma das quatro partes do mundo, para aprender trabalhos especiais, tais como: tecer, cozinhar, ou os ritos do sol (religião). Podia chegar a ser esposa de um alto funcionário, ou, se a fortuna lhe favorecesse, converter-se em concubina do próprio soberano Inca. Porém, na grande maioria das vezes, os homens e mulheres nasciam, eram educados, e morriam no seu próprio ayllu.

A lhama era o único animal doméstico. Antes da chegada do homem branco, a América não conhecia o cavalo, nem o boi. Raramente usavam a lhama para montar. Sua lã extremamente resistente servia para fazer sacos, mantas, fardos e cordas; sua carne era aproveitada na alimentação.

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