quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Inca, o Império do Ouro (Prefácio à 2ª edição)

Desenho feito por Jamir Freire,
quando éramos acadêmicos
de Arquitetura e Urbanismo
na UFPA (Belém, PA).
Depois de tentar por várias vezes (anos seguidos), acessar o site original Inca, o Império do Ouro, criado por mim há quase 10 anos no Vilabol (que simplesmente ignora quando peço para recuperar meu acesso ao site), resolvi desistir e aceitar a sugestão da minha amiga Lília Marianno de postar aqui no blog o material do site.

O site é a reprodução e publicação online de uma monografia produzida em grupo quando fiz faculdade de arquitetura. Por isso, divido os créditos com Ana Roberta e Fernanda.

Tive que fazer algumas pequenas adaptações para o formato blog, mas acredito que tenha ficado bem fácil de ler e navegar.

Então aqui vai: Inca, o Império do Ouro.

Tenham todos uma boa leitura!

Inca, O Império do Ouro: considerações finais e referências


É uma pena que uma civilização de cultura tão rica tenha sido de tal forma dizimada por um povo que se dizia civilizado. O conhecimento dos incas em muitos campos, tais como astronomia, medicina e agricultura era certamente superior ao europeu, de tal modo que a cultura do mundo de hoje ainda usa muito da tecnologia criada pelos incas naquela época.

O mundo moderno não pode fazer idéia de quanto conhecimento perdeu com a extinção desse povo. Certamente, valiosíssimos tratados científicos devem ter sido destruídos na invasão e o nível de organização que resta ainda hoje entre os descendentes dos incas não representa nem um centésimo do império que um dia foi o mais poderoso da América do Sul.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


A BÍBLIA SAGRADA; TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE HOJE. São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil, 1988.

AS GRANDES MARAVILHAS DO MUNDO; MARAVILHAS CRIADAS PELO HOMEM. . Reader’s Digest Vídeo, .

ATLAS DO EXTRAORDINÁRIO; LUGARES MISTERIOSOS II. Espanha. Prado, 1995.

BOLTSHAUSER, João. História da arquitetura. Belo Horizonte. , 1966.

CAPDEVILA, Arturo. Los Incas. Barcelona. Labor, 1947.

DICIONÁRIO ESPANHOL/PORTUGUÊS. Porto. Porto, 1990.

ENCICLOPÉDIA MULTIMÍDIA DA ARTE UNIVERSAL; ARTE ORIENTAL, AFRICANA, PRÉ-COLOMBIANA E OCEÂNICA. . AlphaBetum, .

ENCICLOPÉDIA NOVO CONHECER III. São Paulo. Abril, .

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1986.

GRANDE HISTÓRIA UNIVERSAL II. Rio de Janeiro. Bloch, 1973.

HAGEN, Victor Wolfgang Von. Los Reino Americanos del sol; aztecas, mayas, incas. Barcelona. Labor, 1964.

HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES III. São Paulo. Abril Cultural, 1973.

LEVILLIER, Roberto. Los Incas del Perú II. Buenos Aires. Porter, 1942.

RIVA-AGÜERO, José de la. Las Civilizaciones Primitivas y el Imperio Incaico; estudios de historia peruana. 1966.

Os últimos incas: a morte da civilização Inca



De acordo com a tradição, todo Inca deveria casar-se com uma mulher de sangue real nascida em Cuzco. Huayna Capac o fez e desse casamento, sem alegria, nasceu Huáscar (“o odiado”), herdeiro legítimo do trono. No entanto, Huayna estava apaixonado pela princesa de Quito; e desse amor, presenciado com horror pelo Império, nasceu seu querido filho Atahualpa (“filho da fortuna na terra”).

Os filhos cresciam: Huáscar, amado pelo povo e malquerido pelo pai, e Atahualpa, amado pelo pai e alvo de revoltas dos cortesãos de Cuzco. O coração do reino estava divido entre os dois príncipes, que cresceram em constante rivalidade.

Arturo Capdevila, em seu livro intitulado Los Incas, retrata com expressividade a situação do Império:

Sombrio ocaso foi a vida de Huayna Capac. Seus filhos rivais torturavam-lhe a consciência com quem sabe quais duras previsões. Sinais nefastos manchavam o céu pátrio. De espanto em espanto, em misteriosa onda de lenda, corria no entardecer de seu reinado a fama dos espanhóis recém-chegados, homens brancos desembarcados um dia com temível desígnio pelo confim setentrional do país. O céu e a terra assinalavam presságios. Meteoros cárdeos rasgavam o firmamento na noite. Uma auréola de fogo dividida em três círculos rodeava o disco da lua. Os llaycas agouravam o Inca: 'o primeiro círculo anuncia guerra; o segundo, a queda do sol; o terceiro, o fim de tua raça.' 

Tudo isso se pressentia no reino do Peru. As próprias cerimônias realizadas pela morte de Huayna dão por sua parte um sinal disso. Uma espécie de loucura trágica estava impregnada na alma popular. Ao celebrar as exéquias de Huayna, bem entenderam que se despediam de seu último Inca. Nunca o templo de Tampu, próximo a Cuzco, presenciou mais solene homenagem. Os palácios reais foram clausurados por todo o Império. Fanatismo, fatalidade e loucura indicavam a iminência da queda. Imagina-se com espanto aquela pira de suplício alçada em honra ao Inca morto. Supõe-se que 4 mil vítimas voluntárias, entre concubinas e servos, dançaram e sucumbiram naquela fogueira em que já fumegava o vento vazio, a antiga glória do Peru.”

Antes de morrer, Huayna resolvera quebrar a tradição Inca e repartir o reino entre seus dois filhos: Atahualpa, que seria o monarca do Norte, e Huáscar, que o seria do Sul. Decidira também, em fidelidade à esposa amada, ser enterrado na cidade de Quito, junto às múmias de seus antepassados.

O cisalhamento do reino preparava obscuramente o império para o triunfo dos homens brancos. Em 1531, os exércitos de Atahualpa e Huáscar se confrontaram numa sangrenta batalha fratricida em Ambato e Quipaypán, da qual Atahualpa se saiu vencedor. Mas isso iria durar pouco tempo, como bem o sabiam os amautas e haravecs, povos de ciência e saber ocultos; para eles, Atahualpa não era na verdade um Inca, um legítimo filho do Sol; era um intruso.

Então, em 1532, Pizarro, conquistador espanhol, foi recebido por Atahualpa em Cajamarca, onde, na primeira oportunidade, aprisionou o imperador, iniciando a destruição do império.
Atahualpa foi morto por ordem de Pizarro. O povo já não tinha seu deus – era inconcebível como um deus poderia ter sido destruído tão facilmente por aqueles homens.

Assim foi a queda da tradição religiosa incaica; assim foi a queda do tão poderoso exército; assim foi a queda da capital, Cuzco. Assim foi a morte do Império Inca.

Mas certo era que a lua havia se mostrado envolta na tríplice sinistra auréola. O invasor já começava a apoderar-se do solo americano e se cumpria, a seu tempo, a palavra profética de Nezahualcoyotl: virão tempos em que serão desfeitos e destroçados os vassalos, e tudo cairá nas trevas do esquecimento…” (CAPDEVILA, Los Incas, p.164).

Os últimos incas: os imperadores e as guerras de expansão



Na ambição de mais poder e riquezas, o que é natural ao ser humano, foram iniciadas, no governo do sétimo Inca, Yahuar Huaccac, as guerras de expansão do império. O primeiro povo a ser conquistado foram os collas ou aimaras, que viviam em torno do lago Titicaca.

O sucessor de Yahuar Huaccac, Huiracocha, conquistou os araucanos e changos do litoral chileno com um exército de 20 mil homens.

Além de manter a expansão do império, o Inca seguinte, Pachacutec tornou-se notável por ter construído o grande templo de Cuzco e a Casa das Virgens do Sol e por ter instituído o recenseamento populacional periódico e o pagamento de impostos pelo cultivo das terras dos incas.

Tupac Yupanqui, o décimo Imperador Inca, filho de Pachacutec, realizou novas conquistas, tendo chegado ao rio Maula, na região do Chile.

Depois dele, Huayna Capac foi o último grande Inca. Durante seu governo, o império alcançou sua extensão máxima: incluía toda a região do atual Peru, desde os Andes orientais ao Pacífico, incluindo as regiões montanhosas do Equador até Quito, parte do planalto boliviano e da costa chilena, ao norte do rio Maula (durante algum tempo, chegou a incluir a parte andina do nordeste argentino).

Entretanto, apesar de a ocupação de Quito ter sido o maior feito de Huayna Capac, ele não imaginava que mal essa conquista viria a fazer ao Império.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A vida dos Incas: arte e ciência



A cultura inca — resultado da mistura das culturas preexistentes na região andina — era muito rica, principalmente no que se refere à arte, intimamente ligada à ciência, à religião e ao cotidiano.

A ourivesaria inca possuía caráter funcional e ornamental; o desenho das peças, aspecto de desenhos geométricos. O figurativismo das estatuetas de metal era bem estilizado, tendo a cabeça mais trabalhada que o restante do corpo. A prata era um dos metais mais apreciados para as peças suntuosas, embora se tivesse conhecimento de metais como o ouro. Nessa arte, destacam-se também as facas de sacrifício.

A cerâmica e estamparia caracterizavam-se pela falta de exagero e opulência, assim como pela presença do irregular ou assimétrico. A diversidade de cores propiciou às obras mais vida, com preferência aos tons de terra e ocre.

As construções arquitetônicas incas, apesar da austeridade em relação às dos maias e astecas, não possuem hoje ornamentos esculpidos, o que se deve principalmente ao fato de os espanhóis terem extraído os trabalhos de escultura em ouro que revestiam as paredes dos aposentos internos.

Mas o que marcou, sem dúvida, a arquitetura inca foi o trabalho com a rocha; obras civis de pouca importância, fortalezas, torres, templos, palácios e edifícios do governo tinham em suas estruturas pedras arduamente trabalhadas e esculpidas pelos trabalhadores incas. Tais pedras eram constituídas do mais puro granito branco e seus vértices esculpidos em diversos ângulos (de até 40 graus) de tal maneira que os blocos se encaixassem perfeitamente uns nos outros sem a utilização de argamassa ou cimento e que o espaço entre um bloco e outro fosse impenetrável mesmo pela mais fina lâmina. As pedras, para que pudessem resistir aos freqüentes tremores de terra, tinham forma trapezoidal e eram tão pesadas que chegavam a atingir três toneladas.

Não se sabe, entretanto, o tipo de instrumento utilizado na construção das cidades incas, já que não há vestígios de ferramentas ou rodas. Hipóteses criadas pelos próprios nativos da região dizem que tais ferramentas seriam constituídas de hematita oriunda de meteoritos. Todavia, segundo os cientistas, essa hipótese é um tanto improvável.

É incontestável a engenhosidade de certas construções incas, como por exemplo os canais que transportavam água a poderosas cisternas, para que fosse enfim armazenada sem desperdícios, ou mesmo os diversos níveis de terraços, nos terrenos íngremes da região, que permitiram um melhor aproveitamento da terra para a agricultura.

Sabe-se que as maiores e mais famosas cidades-fortalezas da civilização inca são Sacsahuamán e Macchu-Picchu. Essa última é conhecida como “cidade perdida dos incas”; é um complexo de templos, palácios, observatórios e residências das classes governantes.

A posição privilegiada de Macchu-Picchu permitiu aos incas a execução de profundos estudos científicos e muitos cultos religiosos, principalmente no que se refere ao sol. Por isso, a cidade era considerada um verdadeiro santuário.


Dentro de seu conjunto arquitetônico, formado por mais de 200 edifícios, destacam-se o Observatório Solar e dois grandes templos: o Principal e o das Três Janelas.

No Observatório, encontra-se a Intihuantana (“lugar de pouso do sol”), uma pedra sagrada que tinha como objetivo o culto ao deus Sol (“Inti”), e que servia como instrumento científico para as observações astronômicas e cálculos meteorológicos sobre a forma redonda do céu que ajudavam a prever a época propícia para a colheita.

No Templo Principal, destaca-se um edifício semicircular com três metros de diâmetro por dois e meio de altura, constituído por enormes blocos de granito. Essa construção demonstra o alto nível arquitetônico atingido pelos incas,  já que a técnica do trabalho com círculos veio a se desenvolver tardiamente.

O Templo das Três Janelas é bem parecido com o Templo Principal quanto à estrutura, com seus blocos perfeitamente talhados. Sua planta baixa é quadrada e apresenta apenas três janelas (por isso o nome dado a ele).

Supõe-se que as mais importantes cidades incas possuíam um Templo do Sol — abrigo para as Virgens do Sol (“acllas”), mulheres escolhidas para executarem serviços reais nos Templos e durante os rituais — além de um Palácio Real.

A cidade de Macchu-Picchu foi conservada em segredo pelos imperadores incas afim de evitar contato com os conquistadores espanhóis. Transferiu-se, então, a civilização para as cidades de Victos e Vilcabamba. Até a sua revelação ao mundo pelo historiador Hiram Bigham, Macchu-Picchu permaneceu intocada. As geleiras, selvas equatoriais e fortes correntezas dos rios colaboraram para tal conservação.

Há uma hipótese sobre a maneira com a qual foram construídas as cidades incas que supõe terem os engenheiros e arquitetos dessa época se baseado em observações astronômicas para definir os locais e posições exatos para erguer os prédios.

Os conhecimentos de Geometria e Geografia adquiridos pelos cientistas incas foram provavelmente utilizados nas construções de cidades famosas como Macchu-Picchu, Cuzco e Ollantaytambo, assim como devem ter servido para determinar as melhores épocas de plantio e de colheita, uma vez que os incas possuíam uma agricultura de subsistência tão avançada que superava a européia do mesmo período.

Acontece que, para o posicionamento de determinadas construções, como os prédios da cidadela de Macchu-Picchu, os incas deveriam saber a exata localização dos pontos cardeais e, para isso, saber o local exato do nascer e do pôr do Sol no horizonte nos dias de equinócios. Como eles poderiam sabê-lo, já que a cidade é rodeada pela Cordilheira dos Andes e não se pode ver o sol tocar o horizonte? Talvez o tenham feito através de observações sistemáticas do movimento do sol no céu.

A vida dos Incas: aspectos político-econômicos



O ayllu consistia na unidade social básica do império. Era uma espécie de clã, um grupo de famílias que viviam juntas dentro de uma área definida, compartilhando da mesma terra, animais e outras coisas. Essa unidade social podia ser grande ou pequena, estendiam-se até formar uma aldeia ou grande centro ou até mesmo uma cidade inteira. Cuzco, a capital, era nada mais que um Ayllu ampliado.

Individualmente, ninguém possuía terras; O ayllu constava de um território definido, e os que viviam nele dividiam a terra. É importante lembrar que os incas não criaram o Ayllu, já que essa organização faz parte da evolução da sociedade andina, mas o sistematizaram e ampliaram.

Um Ayllu é governado por um chefe eleito e assessorado por um concelho de anciãos. Existe ainda um chefe de distrito, que é responsável por um determinado grupo de Ayllus, que por sua vez formam um território e que se unem para construir "uma das partes do mundo", governada por uma espécie de prefeito, ao qual só cabia responder ao soberano Inca.

O modo político e econômico define a estrutura piramidal e decimal desse império, que na base encontra o puric, o obreiro robusto. Cada dez obreiros eram mandados por um capataz; cada dez capatazes, por um sobrestante, que tinha por sua vez um supervisor, o chefe da aldeia. Essa hierarquia, composta por dez mil trabalhadores, assim continuava até chegar no chefe da tribo.

Uma vez ao ano, a cada outono, as terras do ayllu eram repartidas entre seus membros. Para cada novo casal, era entregue o jefe, que equivalia a aproximadamente uma área de noventa por quinze metros. A distribuição de terras se baseava no número de filhos que tinham que manter.

A terra comum do ayllu se repartia do seguinte modo: primeiro para o povo; em segundo lugar para o Inca, ou seja, para o Estado; e em terceiro para a religião do Sol — era uma espécie de dízimo. As porções de terra pertencentes ao Estado ou à religião eram cultivadas comunalmente, como parte de um imposto, em forma de prestação pessoal.


Todo o reino Inca, inclusive os andes, o deserto e o alto amazonas, converteu-se num grande centro de domesticação de plantas silvestres. Mais da metade dos alimentos que o mundo consume hoje foi desenvolvida por esses camponeses andinos. Calcula-se que ali, mais que em qualquer outra zona do mundo, se cultivou grande número de alimentos e plantas medicinais de forma sistemática. Mencionemos só as mais importantes: duzentas e quarenta variedades de batata, além de milho, abóbora, feijão, abacaxi, caju, cacau, mamão, tomate, pimentão e abacate, entre outros.

A batata é a principal planta comestível do alto dos andes. Em nenhum outro lugar como o Peru existem tantas variedades de batatas. São mais de duzentas e trinta espécies.
O milho compartilha com a batata as honras de constituir alimento básico e de qualidade. Esses vegetais são extremamente resistentes às condições climáticas dos andes.

O ano do trabalhador andino se divide em duas estações: A úmida e a seca. A úmida vai de outubro a maio; a estação seca ia de maio a novembro.

Agosto era o mês das tarefas do campo. A nobreza levava isso muito a sério e sempre participava de tais festejos. Os homens trabalhavam cantando e seguindo o ritmo. Depois de preparar os campos do Inca, do Sol e deles próprios, iam ajudar os parentes, os doentes ou lesados.

De Cuzco se enviavam arquitetos para planejar as obras e os projetos de maior importância, como por exemplo Pisac, onde o sistema de irrigação estava nas alturas do curso do rio Urubamba, onde os trabalhadores cavavam na rocha viva. Também eram construídos sistemas para desviar as geleiras das plantações.

Grande parte das atividades dos incas estava relacionada à irrigação. Havia imensos depósitos de água na fortaleza de Sacsahuamán, abaixo de Cuzco. Levavam a água subterrânea até a região das pedras. Magnificamente, o local era umedecido se tornando propício para o plantio. A técnica usada pelos engenheiros permitia levar a água até o alto dos vales; dali descia, e toda a região era regada por uma única corrente. A condução da água requeria um plano muito cuidadosamente traçado e determinado pelo conhecimento das condições hidrográficas, a natureza do solo e a conformação geral do terreno. Em todas as partes do mundo onde se tem praticado a condução da água, as técnicas são exatamente essas.

Setembro era o mês crítico, quando geralmente aconteciam as secas. Em toda a região, lhamas eram sacrificadas e oferecidas aos deuses da chuva. Se nenhum sinal de nuvem de chuva se formasse, se oferecia como sacrifício um homem, uma mulher ou uma criança. Os seres oferecidos ao sacrifício eram amarrados a portes, e nada era lhes dado para comer ou beber. O povo acreditava que dessa forma os deuses poderiam ficar tocados pelos gemidos desses seres e lhes enviar a chuva para matar sua sede.

A vida dos Incas: sociedade e cotidiano





Os quíchuas eram índios americanos dos andes sobre os quais os incas exerciam seu domínio. A pesar da notória diferença entre as tribos, há algo de comum entre elas. Os quíchuas eram — ou melhor, são, posto que ainda existem uns cinco milhões destes aborígenes — de mediana estatura, robustos e de mão grande, pulso pequeno e peito de altura desproporcional — desenvolvido para respirarem a grandes altitudes — pernas compridas e longos pés. Têm os pulmões salientes, narinas largas e olhos pequenos.

As mulheres são mais baixas e de constituição mais delicada, porém sua fragilidade é só aparente, posto que são capazes de realizar os trabalhos mais pesados; dão à luz e voltam a trabalhar no campo ao cabo de vinte e quatro horas. Muitas dessas mulheres possuem traços delicados; Algumas são consideradas belas; pelo menos assim o pareceram aos primeiros espanhóis que casaram com elas. Os primeiros retratos feitos delas pelos espanhóis mostram fisionomias muito delicadas, e um cronista, ao falar dessas mulheres escreveu: "As mais belas e bem apessoadas de todas que já vimos nas índias (...) Sumamente charmosas e bem conformadas"

Os peruanos têm uma grande resistência física, ao cabo de séculos vivendo na escassez e oxigênio dos andes, seu corpo se desenvolveu de tal sorte que podem realizar todas as atividades normalmente. Seu peito e seu pulmão são super desenvolvidos, de modo que a elevada altitude não lhes afeta a respiração.

Assim, este homem, resistente, incansável, robusto e adaptado pela natureza, constitui a ampla base da pirâmide social que foi o Império Incaico.

Era classificado como hatun-runa ou puric, como trabalhador fisicamente bem dotado; pertencia a uma comunidade territorial e se considerava um elemento indispensável na estrutura piramidal e decimal que foi o Império Inca.


Usavam um vestido que era como uma versão abreviada do traje de noite da época vitoriana inglesa: Um pano de lã com um buraco para sacar a cabeça, as bordas eram costuradas, deixando-se amplos cortes para sacar os braços. Era uma roupa simples e sem pretensões. Recebia o nome de onka e era feita de lã de alpaca. Também usavam um pedaço de lã nos ombros, yacolla, quando fazia frio.

A última peça de seu vestuário era uma espécie de cueca que consistia em uma faixa de lã que passava por entre as pernas e era amarrada na cintura; chamava-se chumpi. Começavam a usar esta peça quando completavam quatorze anos.

Assim pois, uma cueca, uma túnica e uma rústica capa constituíam todo o vestuário que o índio dispunha para cobrir seu corpo no frio clima dos Andes. Quando trabalhavam no campo, limitavam-se a prender suas longas cabeleiras com cordões de lã coloridos. Quando faziam uma viagem ou iam a uma festa, usavam um penteado característico, que o distinguia dos outros companheiros. Nas grandes solenidades, usavam túnicas mais largas, que chegavam aos joelhos, em que ele e sua esposa ostentavam o máximo de seu talento e habilidade; geralmente usavam sandálias.

A vestimenta da mulher também era simples; consistia em uma larga peça retangular de lã de alpaca, chamada de anacu, que passava pela cabeça, era grande o suficiente para cobrir todo o corpo e se amarrava na cintura. Ia até os joelhos, às vezes até os pés. Também usavam yacolla.

Os homens de prestígio, dentre os quais os governantes curacas, se vestiam de modo similar ao índio comum, porém a qualidade do tecido era suntuosa. Se distinguiam facilmente, se não pela túnica, pelos maciços pendentes, em geral de ouro. O próprio imperador se vestia igual a seus súditos, porém sua túnica era feita com a mais fina lã de Vicuña. Bem como o homem do povo, raramente tirava a túnica. Quando isso acontecia, queimava-lhe, como oferenda ao deus Sol; jamais usavam a mesma túnica duas vezes.

Na idade de vinte anos, esperava-se que o homem se casasse. Os ritos nupciais eram simples. Os noivos se davam as mãos e realizavam a cerimônia de troca de sandálias.

O matrimônio do homem de classe baixa era monogâmico. E dado que era a mulher que lhe preparava o que comer e beber, era um grande desastre para ele a morte da companheira. A poligamia existia apenas para os nobres, o próprio imperador possuía centenas de concubinas. Todas as classes governantes eram praticantes da poligamia.


A casa do lavrador era retangular, sem janelas, feita de pedra recozida do campo e com uma capa de barro; tinha apenas uma entrada, uma porta coberta por uma cortina de lã. Os suportes que sustentavam suas moradias eram feitos de arbustos cortados das montanhas. Essas casas rústicas ainda podem ser observadas em ruínas em Macchu-Picchu. O piso era feito de terra pressionada, coberto com pele de lhama ou de alpaca. Não havia móveis, o índio se sentava sobre o solo. Havia apenas prateleiras, para guardar utensílios de cozinha, e alguns paus fincados nas paredes, para pendurar as roupas e uma grande pedra onde as mulheres preparavam os alimentos. Dormiam no chão, sobre a pele de lhama e sobre uma manta.

A aldeia era planejada de acordo com um plano retangular, segundo se crê, por arquitetos profissionais enviados pelo Estado. Três ou quatro paredes retangulares formavam uma espécie de parede comum. Esse tipo de arquitetura pode ser observado nas ruínas de Ollantaytambo, a uns quarenta quilômetros de Cuzco.

O ciclo da vida cotidiana começava ao raiar do sol, O índio satisfazia sua sede com uma bebida fermentada de nome a'ka, ligeiramente embriagante, espessa, com sabor de malte. Logo o lavrador se encaminhava para os campos.

A família se reunia para tomar sua segunda refeição, geralmente manjares de raiz ou sopa com carne de lhama secada ao sol (chuñu). A refeição do entardecer, o cena, se tomava entre as quatro e cinco da tarde. Os homens se sentavam ao redor da vasilha, colocada em cima de um pano e se serviam com as mãos ou tomavam a sopa em taças de barro cozido. As mulheres sentavam fora do círculo.

As crianças eram educadas desde pequenas para o papel que iriam desempenhar durante o resto de suas vidas. Depois do nascimento, o bebê era lavado em água corrente e, ao quarto dia, colocado em um berço chamado quirau. Não se dava a ninguém um nome individual nos primeiros anos de vida. Os novos seres eram chamados de wawa (bebê). A família celebrava depois uma festa chamada ritu-chicoy (corte do pelo) e o nome permanente não se dava até que a criança chegasse à puberdade.

Aos quatorze anos de idade, o menino usava pela primeira vez a "cueca". Nas classes superiores, isso era acompanhado por uma peregrinação ao lugar de origem do estado inca de Huanacauri, no vale de Cuzco, e pelo sacrifício de lhamas realizados pelos sacerdotes. Em seguida, passava-se o sangue no rosto do garoto, que logo assumia o aspecto de um guerreiro e pronunciava em público um juramento de fidelidade ao Inca. Os meninos de classes superiores recebiam uma educação tradicional, que lhe faria apto para desempenhar, mais tarde funções administrativas.

As meninas também entravam na puberdade mais ou menos ao mesmo tempo, em uma encantadora cerimônia de corte de cabelo. Dava-se a elas o nome permanente. A mulher tinha a oportunidade de abandonar o ayllu e inclusive a classe social em que havia nascido. Se demonstrasse especial talento na arte de tecer, fosse graciosa ou muito bela, poderia ser eleita como "mulher escolhida" (nusta). Nessas condições, era conduzida a Cuzco ou a qualquer outra capital de província de uma das quatro partes do mundo, para aprender trabalhos especiais, tais como: tecer, cozinhar, ou os ritos do sol (religião). Podia chegar a ser esposa de um alto funcionário, ou, se a fortuna lhe favorecesse, converter-se em concubina do próprio soberano Inca. Porém, na grande maioria das vezes, os homens e mulheres nasciam, eram educados, e morriam no seu próprio ayllu.

A lhama era o único animal doméstico. Antes da chegada do homem branco, a América não conhecia o cavalo, nem o boi. Raramente usavam a lhama para montar. Sua lã extremamente resistente servia para fazer sacos, mantas, fardos e cordas; sua carne era aproveitada na alimentação.

Os primeiros Incas: o nascimento da civilização Inca



Antes dos incas se instalarem na região do Peru central, onde veio a ser construída a cidade de Cuzco, capital do Império Inca, o lugar era ocupado pelos povos quíchuas.

Conta a história que certo dia um homem chamado Manco Capac chegou ao Peru, com sua irmã Mama Ocllo, vindo do lago Titicaca. Ele era filho do Sol e sua missão era transmitir aos homens as leis e a civilização. De fato, manco Capac civilizou o povo quíchua a ponto de construir um grande império, como foi o Império Inca.

Inicialmente, o nome Inca era dado a todos quantos se juntassem ao clã liderado por Manco Capac. Mais tarde, o nome passou a designar os soberanos do império.

Os primeiros Incas: tribos pré-incaicas




Vários tipos de culturas se desenvolveram na região andina antes da instituição do Império Incaico. O conjunto, espalhado pela costa e pela serra, teve seu apogeu entre 300 e 900 d.C.

No período pré-clássico, no litoral, se desenvolveram as culturas dos reinos Chimu, Cuismancu e Chuquimancu. O reino Chimu teve como capital a cidade de Chanchán, cujas ruínas cobrem hoje uma área de 18km²; outras cidades importantes foram Pacatnamu e El Purgatorio.

Conheciam a metalurgia e a cerâmica, adoravam o Sol (Patá) e a Lua (Si) e faziam sacrifícios humanos com crianças de 5 anos no altar da deusa Lua. No reino Cuismancu, a cidade-santuário de Pachamac possuía monumentos muito importantes.

Ainda no pré-clássico, nas serras, floresceram as culturas de Colla, do Utcubamba, de Cajamarca, de Huamachuco e a primitiva Incaica. A cultura colla ou aimara foi fruto da expansão civilizadora de Tiahuanaco, (algumas pessoas a identificam como cultura Chullpa, devido a suas famosas torres funerárias).


A cultura do Utcubamba ficou conhecida pelas “aldeias da morte” ou kullpís, onde os mortos eram enterrados; a cultura incaica primitiva foi descoberta durante as escavações na fortaleza de Sacsahuamán, nas cercanias de Cuzco.

No período seguinte, o clássico, desenvolveram-se na costa da região andina a cultura Mochica, ou Proto-Chimu, que se estendeu dos vales de Chicama, Moche, e Virú até Chao, Huamazaña e Nepeña. Conhecia a arte têxtil e sua arquitetura se caracterizava pelas huacas, pirâmides construídas de terra.

Com traços semelhantes a esses, foram encontradas na costa central a cultura Proto-Lima e nos vales de Pisco, Ica e Nazca a cultura Nazca, de grande expressão artística.

Na serra, ainda se destacaram algumas culturas clássicas como a de Recuay, com sua arquitetura subterrânea e a de Tiahuanaco, formada por outras três culturas serranas anteriores: a de Chiripa, Pucara e Tiahuanaco antigo. Os tiahuanacanos conheciam a domesticação da lhama e sua escultura estava intimamente ligada à arquitetura.

Os primeiros Incas: a procedência do homem americano



Desde que foram encontrados os primeiros indícios de vida humana na América, muitos mistérios pairam sobre os restos dessas civilizações que um dia dominaram o solo americano:

. Que idade têm as ruínas e que mensagens podem nos trazer?
· Por que exatamente essas civilizações se extinguiram?
· Como se desenvolviam e porque retrocederam as sociedades indígenas na época da conquista européia?
· Se a civilização veio de fora, como, quando e de onde foi e de que modo evoluiu?

A primeira forma que se encontrou de explicar o povoamento americano foi procurando em documentos antigos indícios de alguém que pudesse ter atravessado o oceano e colonizado uma área tão extensa.

Então, baseado na Bíblia judaica, foi lançado o livro A Bíblia Poliglota (1569-1573). Escrito pelo estudioso Arius Montanus, esse livro expõe a tese de que a América teria sido povoada por dois filhos de Joctã, tetraneto de Noé: Ofir, que teria povoado o noroeste americano, e Obal, que teria povoado o Brasil.

Outra hipótese diz que o homem americano teve procedência cartaginesa: um relato de Aristóteles conta a história de alguns marinheiros de Cartago que teriam descoberto uma grande ilha com selvas, frutos e rios navegáveis, distante da cidade uns oito dias de navegação.

Acredita-se, também, que o povo fenício, fundador da cidade de Cartago e conhecido pelo domínio da navegação, pode ter chegado à América muito antes de se ter qualquer conhecimento sobre terras além do oceano. A inscrição “Tyro Phenicia, Badezir primogênito de Jethabaal”, gravada na Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, é um indício de que os fenícios podem ter estado no Brasil há cerca de 2800 anos. A hipótese e a inscrição não são aceitas por todos os estudiosos, mas o frei Gregório Garcia, baseado ainda em Aristóteles e Herodoto, sustenta a tese e assegura terem sido encontradas inscrições fenícias também na Venezuela e Guatemala.

No meio de tantos estudos e teorias formuladas, a hipótese mais aceita hoje é a de que o homem americano, assim como muitos povos europeus, africanos e asiáticos, é descendente direto do povo atlante, habitante da grande ilha de Atlântida, hoje supostamente submersa nas águas do Oceano Atlântico.

Essa tese não se baseia apenas na conhecida lenda de Atlântida. Há provas incontestáveis de que as tribos indígenas da América e da África, a antiga civilização chinesa e inúmeros outros povos de todos os continentes têm um ancestral comum. Uma dessas provas é a semelhança inexplicável entre certas palavras, como a palavra que designava a divindade maior desses povos: na Grécia se chamava Teos ou Zeus; nas regiões onde se falava o latim, Deus; em Sânscrito, se escrevia Dyaus; no México antigo, os astecas chamavam Teo ou Zeo, e na Europa os celtas diziam Día, Ta ou Zia. Outra semelhança pode ser notada nas pirâmides astecas, muito semelhantes às egípcias e aos zigurates babilônicos.

Inca, o Império do Ouro


Entre todos os povos e culturas da América pré-colombiana, a região Andina, área de ocupação do Império Incaico, se destacou pelo alto nível de organização social e política encontrado quando da chegada dos europeus.

No seu apogeu, o império chegou a ocupar mais de um milhão e setecentos mil quilômetros quadrados, o equivalente a aproximadamente 9,5% da área da atual América Meridional.

Em meados do século XIV, o reino foi dividido em duas partes; a civilização, fragilizada, foi invadida pelos espanhóis e, não suportando a situação, entrou em decadência.

Vejamos agora um pouco sobre essa brilhante civilização: sua organização social, cultural, política e artística.

Prefácio à 2ª edição

1. Os primeiros Incas
a) A procedência do homem americano
b) Tribos pré-incaicas
c) O nascimento da civilização Inca

2. A vida dos incas
a) Sociedade e Cotidiano
b) Aspectos político-econômicos
c) Arte e ciência

3. Os últimos Incas
a) Os imperadores e as guerras de expansão
b) A morte da civilização Inca

Considerações finais e Referências



SOBRE

TÍTULO ORIGINAL: Inca, o Império do Ouro

AUTORES:
Ana Roberta Ferreira
André de Barros Coelho
Fernanda Cabral Barbosa

PROFESSOR/ORIENTADOR: Daniel Campbell Pena

DISCIPLINA: Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo II (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Instituto Tecnológico / Universidade Federal do Pará)

LOCAL: Belém-PA, Brasil

ANO: 1999

CONTATO: abcoelho@superig.com.br
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