um gigante...
Cada passo...
tão difícil
e tão longo!
Você não imagina o quanto já andaram estes pés;
não imagina o tamanho dos passos;
não sabe a distância entre Rio e Belém;
nem conhece, dos calcanhares, os laços.
Os dias me tiram as forças;
porém madrugadas, como esta,
fazem-me férteis o coração e os poros.
Um coração grita na noite:
– Queeeeeem?...
Quem nos ouvirá as mágoas?
Quem nos salvará das águas?
Quem terá a chave que abre todo sentimento?
(Céu na Boca)
Outro coração, do alto, grita:– Aquiiiiiiii!... –,
enquanto grossas gotas de sangue escorrem escuras nas areias
[ quentes do deserto.
Curva-se um par de joelhos,
enquanto repousam os pés,
e a voz, do alto, indaga:
– Quem és?
– Sou eu, teu filho...
já não lembras de mim?
Decerto andei disperso,
não telefonei, não escrevi...
mas uma coisa peço:
deixas que volte-me a ti?
A voz sorri,
desce,
calça as havaianas,
abre a porta
e, sorrindo, diz:
– Claro que deixo, filho...
Não cochilei enquanto não chegaste.
Eis ali tua cama quentinha, roupas limpas,
e teu cachorro no quintal.
É triste a partida
sem a volta;
viagem só de ida.
Para quem nunca partiu,
dói menos...
mas não há nada igual
a pisar o chão de casa
e perceber, num sorriso,
que as raízes ainda estão lá,
fincadas,
nutridas,
profundas,
entrelaçadas,
robustas,
doídas
e fortalecidas.
Rio de Janeiro
17 de dezembro de 2009