segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Ritmo de Festa

A saudade é um dos temas recorrentes em mim. Assim como o o são o longe, o perto, o que se deseja, as decepções, as razões, a chuva, o êxtase, a alegria, a verdade, as decisões, et. al.

Isso me faz lembrar uma aula de Língua Portuguesa, que tive há não muito tempo aqui no Rio de Janeiro. O professor escolhia aleatoriamente um tema e cada aluno ia à frente da turma discursar durante 5 minutos sobre o tema escolhido.

Quando chegou a minha vez, já ao fim da aula, não havia mais temas na lista do professor. Ele iria me pedir para falar em "luto", mas, depois que alguém o lembrou de que esse tema já havia sido usado, ele modificou para "festa".

Sempre acho mais difícil falar sobre a alegria, porque é um sentimento óbvio. Quem está alegre faz festa. Porém quem está triste pensa, reflete. Já disse há muito tempo o pensador do livro de Eclesiastes que "Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração." (cf v. 7.2)

Fiquei de pé, dirigi-me à frente da turma, e pensei durante alguns segundos. À minha mente não vinham danças, nem comemorações, nem banquetes, nem festas de aniversário. Mas me veio a lembrança da chuva que cai nas tardes quentes de Belém do Pará.

Penso que a saudade é aquilo que faz cantar a alma. É aquilo que coloca a alma (e não o corpo) em festa. Acho muito curioso, por exemplo, a maneira como o carioca, em geral, não gosta de chuva. Costumo dizer que os cariocas, quando chove, ficam deprimidos. De fato, eles não saem de casa, ou saem por obrigação e passam o dia resmungando e dizendo que preferem o sol.

É claro. O sol, para o carioca, é festa. A cidade do Rio de Janeiro, nos dias ensolarados, fica mais bela, mais aproveitável, mais visível (e a cidade do Rio é uma cidade que precisa ser vista de longe). Sem falar nas praias. O sol coloca a alma do carioca em festa. Em contrapartida, a chuva é como se trouxesse o luto.

Nos primeiros anos morando no Rio, eu não conseguia entender isso. Para mim, um paraense de Belém, chuva é essência, lembrança e vida. Em geral, para o papa-chibé (belenense), a chuva coloca a alma em festa.

Existem poucas coisas boas como tomar banho de chuva numa tarde quente, de pés descalços. Ou então sentar-se do lado de dentro da casa e ver a chuva, ora pingando, ora jorrando pelos telhados e condutores. Ou então observar as nuvens negras cobrindo o céu no meio do dia, parando o vento, fazendo as luzes da cidade se acenderem, e derramando-se minutos depois em deliciosas chuvas torrenciais.

Poucas coisas são tão boas quanto, depois de uma forte chuva equatorial, assistir o céu se abrindo e o sol brilhando novamente. Só sabe quem já viu.

A saudade para mim não é luto. Saudade é trazer para perto o que não mais está perto. Saudade é presença, é certeza. Saudade é festa.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Casa de Farinha

Thiago Azevedo (Belém-PA)

No roçado de mandiotuba
Raiz de mandioca brotou,
Braquinha, cruvela, engana-ladrão,
Tantos nomes, uma visão.

Palavra semeada na terra
Floresce como maniva,
Meu coração é manipeba,
Na água amolece minha vida.

Casa de farinha,
Mandioca triturada,
Meu ser no fogo torrada,
Farinha pura tirar.

Deus, peneira minha vida,
Pra purificar minha essência,
Pai, nesse mundo de carência,
Manipueira não queria.

Sou farinha de mandioca,
Da palavra semeada,
Alimento de gente necessitada

Deus fazedor de farinha,
Celebrar na farinhada,
Cantar num som brasileiro
A alegria dessa toada.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens mais populares