terça-feira, 4 de novembro de 2008

perneta

André Coelho

no fundo dos olhos escuros,
no escuro dos fundos olhos,
a retina seca.

lágrimas: um copo cheio,
e um prato de cinzas;
o sono não veio
trazer-me da noite o gosto;
sem lua, sem vento,
coração derradeiro.

e um poema perneta,
que nem meus sonhos...


Rio de Janeiro
16 de julho de 2006

curiosamente atacama

André Coelho
(às vítimas do terremoto no Chile em junho de 2005)

curió pousou na minha janela
pra conversar sobre outras terras
onde só se chega com asas.
curioso, um curió!

não sei bem como,
nem em que momento da nossa conversa,
ele me seqüestrou.
e, engraçado, não me senti seqüestrado,
afinal ele me mostrou as flores
(as muitas e coloridas flores)
que nascem quando chove no Atacama,
lá onde a terra tremeu outro dia.
junto às flores vi o coração do menino,
que, mesmo pequenino,
é maior e mais sabido que o da gente,
que se diz gente grande.

o curió me perguntou o que eu achava daquelas terras
mas eu não consegui falar, pois estava chorando.
acho que naquela hora fiquei meio menino,
fiquei meio curió.

curiosamente aprendi a voar.
qualquer dia posso te levar.
pois as pessoas de lá ainda precisam de flores,
já que perderam suas casas
e choram, não de asas,
mas de chão.



postado em http://papaxibe.flogbrasil.terra.com.br/
26 de junho de 2005 - Rio de Janeiro, RJ
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