domingo, 28 de dezembro de 2008

Via Dutra #10 :: versículo

Se me mares,
eu te morro.


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #9 :: Sampa-Rio

Dum mar-de-poesia-concreta,
via mares-de-morros,
ao mar-de-pedra-fria-da-Guanabara.


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #8 :: Serra das Araras

Quede
as araras
da Serra?


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #7 :: lista de canções para se cantar na Dutra

- Trem das Cores (Caetano)
- Meu Socorro (Libertos)
- Setembro (Céu na Boca)
- Brasil Poeira (Almir Sater)
- Romaria (Renato Teixeira)


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #6 :: açaizeiros

E não pára de passar eucalipto nessa beira de estrada, meu Deus!

Não era esta
a mata atlântica?

Sim.
Também não eram estes
os meus verdes-açaí.


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #5 :: Xangai

Eu-ca-lip-to.

Eu, cá,
lip tô querendo.

Cá, lips!

Ca-lip-so.

Tô eu cá.
Cá lhe pito.

Eu cá. LOL!...


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #4 :: Jobim e Waldemar

Passa Quatro.
Passam oito, doze,
passa um ano inteiro,
passa boi,
passa boiada,
cana-caiana, cana-roxa, cana-fita.

E o tempo não muda.

As folhas, ainda avermelhadas;
outras árvores, peladas;
as flores, fazendo-se botão.

Cadê meu amor, minha canção,
Passarim?
Cadê?


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #3 :: Cecília

Passa Quatro,
São Lourenço,
Caxambu
a Cecília
e o cachorrinho coxo da Chácara do Chico Bolacha
(onde o que se procura nunca se acha).


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #2 :: torpedo

Torpedo vai;
torpedo vem!
Aparecida...
Yakult...
eu...
e ninguém.


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

Via Dutra #1 :: Bandeira

Que importa a jaqueta, a calça de moleton, as meias, a manta?
— O que respiro é o frio.


Rodovia Presidente Dutra (Sampa-Rio)
3 de agosto de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

perneta

André Coelho

no fundo dos olhos escuros,
no escuro dos fundos olhos,
a retina seca.

lágrimas: um copo cheio,
e um prato de cinzas;
o sono não veio
trazer-me da noite o gosto;
sem lua, sem vento,
coração derradeiro.

e um poema perneta,
que nem meus sonhos...


Rio de Janeiro
16 de julho de 2006

curiosamente atacama

André Coelho
(às vítimas do terremoto no Chile em junho de 2005)

curió pousou na minha janela
pra conversar sobre outras terras
onde só se chega com asas.
curioso, um curió!

não sei bem como,
nem em que momento da nossa conversa,
ele me seqüestrou.
e, engraçado, não me senti seqüestrado,
afinal ele me mostrou as flores
(as muitas e coloridas flores)
que nascem quando chove no Atacama,
lá onde a terra tremeu outro dia.
junto às flores vi o coração do menino,
que, mesmo pequenino,
é maior e mais sabido que o da gente,
que se diz gente grande.

o curió me perguntou o que eu achava daquelas terras
mas eu não consegui falar, pois estava chorando.
acho que naquela hora fiquei meio menino,
fiquei meio curió.

curiosamente aprendi a voar.
qualquer dia posso te levar.
pois as pessoas de lá ainda precisam de flores,
já que perderam suas casas
e choram, não de asas,
mas de chão.



postado em http://papaxibe.flogbrasil.terra.com.br/
26 de junho de 2005 - Rio de Janeiro, RJ

terça-feira, 2 de setembro de 2008

ponto final

Sérgio Pimenta


Foi linda a festa:
luz, som, sorrisos,
rodas de amigos
e as canções surgindo.

Passou o tempo,
chegou o dia
e sumiu com a noite
toda alegria.

Todo esse tempo são recordações
que não fazem mais sentido –
pra não sofrer com as desilusões,
procurar um motivo.

Hoje a festa é constante, é real
e eu não abro mão disso.
Quis, aceitei, ponto final:
inha alegria é Cristo.

domingo, 31 de agosto de 2008

Abroad

André Coelho


Quanto tempo, Pai?
O que me afasta destas letras?
Que me afasta... de ti?

Como se eu não soubesse.

Rs...
...como se não me conhecesses.

Deus, somente Deus
os seus mistérios pode revelar.
Os seus desígnios, quem jamais
um dia conheceu?
Pois Deus, somente, é Deus!



*São Bernardo do Campo - SP, in Sarau da Comuna

sábado, 30 de agosto de 2008

Silenciar

Márcio Cardoso


Desacelera
no teu coração o ritmo,
sossega na presença de Jesus.

Desacelera
do compasso deste século
e escuta o sussurro do Senhor.

Larga todo o controle
que insistes em carregar,
obedece à dinâmica do teu viver
e verás que fazer música
também é pausas usar
e verás que adorar
também é silenciar.

Desacelera!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

pensamentos a bordo nº 9

minha alma chora
ao deixar mais uma vez Belém do Pará.
da janela do avião já avistei
o Planalto Central,
mas meus olhos plantam por toda parte
rios, ilhas, florestas.
meus olhos na verdade chovem.

acho que preciso de um lenço...


*Distrito Federal, 27.02.2006, a bordo da Gol

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

pensamentos a bordo nº 8

neste momento em que me falta o ar,
depois de um lindo amanhecer nos céus do Goiás,
e em que os olhos ardem pela madrugada mal-dormida,
estou certo de que trocaria toda a correria da vida
pra viver um pouco no céu
(o verdadeiro céu).


*Distrito Federal, 27.02.2006, a bordo da Gol

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

pensamentos a bordo nº 7

encantadores luares de agosto
no lago de Tucuruí,
lá, onde a primeira lua que vi
me causou tanto espanto!
não se se tremo ou se canto;
se é medo,
ou se já, gôsto.


*Tocantins, 21.12.2005, a bordo da Transbrasiliana

sábado, 16 de agosto de 2008

pensamentos a bordo nº 6

esta lua que vejo
não é prata nem cor de queijo;
mas de um bronze-claro-quase-chumbo...
inexplicável como um beijo.


*Tocantins, 21.12.2005, a bordo da Transbrasiliana

pensamentos a bordo nº 5

a lua, tão grande
e quase cheia,
me furtou agora um demorado olhar.
certas cenas são breves e eternas,
comuns e raras.

o que haverá trás-os-montes e matas do Tocantins,
verdes e escuros,
onde a lua se esconde?


*Tocantins, 21.12.2005, a bordo da Transbrasiliana

terça-feira, 5 de agosto de 2008

pensamentos a bordo nº 4

o que sobrou de mim esta noite:
pés inchados,
nariz entupido,
insônia
e as lindas cidades do Tocantins
(uma.... a uma...)

*Tocantins, 21.12.2005, a bordo da Transbrasiliana

sexta-feira, 25 de julho de 2008

pensamentos a bordo nº 3

nas estradas de Goiás,
o mais bonito de se ver
não são os campos,
não são os pastos,
não são as montanhas,
nem as planícies;
mas aquelas árvores solitárias,
no meio da imensidão de sol,
cuja sombra parece uma noite!


*Goiás, 21.12.2005, a bordo da Transbrasiliana

quinta-feira, 24 de julho de 2008

quarta-feira, 23 de julho de 2008

a pedidos

não tenho escrito coisas novas, mas a pedidos do elias vou aos poucos colocar algumas coisas que já escrevi há menos ou mais tempo – muitas delas postadas no "falecido" flog do semeador (que o flogbrasil apagou sem dó nem piedade).

começo por uma pequena coleção de pensamentos escritos a bordo de ônibus ou de avião, em viagens entre rio de janeiro e belém, cruzando interiores e céus desse nosso brasilzão.

espero, então, que agradem.

pensamentos a bordo nº1

a serra que ainda azula no horizonte,
os olhares perdidos
de alencares,
de iracemas...

estranho;
por pouco esqueci que estava num ônibus.


*Minas Gerais, 20.12.2005, a bordo da Transbrasiliana

quarta-feira, 18 de junho de 2008

cobra norato: "no peito, a marca de pescador..."

A: fala seu mané.

hj vim no bonde conversando com um colega do seminário sobre pink floyd.. foi rápido, mas deu sodade doceis.. pra variar! ahuahuahuah..

e aih, como tah td?? tens estudado? abç, brother, sdd!!!


P: hehehee...
sempre c saudades...
ta td beleza, cara... e to estudando bastante sim... [...]

pois eh...
isso q ta rolando por enquanto
e tu?
fazendo u q da vida?
bjunda


A: né?

da vida.. to fazendo uma canção.


P: hehehe...

tu e poeta...


A: \o/

sô nada.
sô filho de cobra, parido em noite de lua, pequeno!
"filho de filho da floresta", como diz uma música da simone almeida..

e filho da floresta tem sempre mais canções do que a lua cheia.

[...] égua, gostei disso q eu falei. ^^

vou postar nossa conversa lah no blog.

quarta-feira, 19 de março de 2008

croqui po-e-tal

André Coelho

(à Flor que um dia me empoetou)

A você, pequenina,
que inventou minha poeteza,
mando beijo, mando chuva,
jasmineiro florido, anu,
lua cheia (que beleza!)
e doce de cupuaçu.

A quem de meu siso fez um riso,
a quem do pranto fez um canto,
mando agora, sem espanto,
este versinho de improviso.

A quem fez-me sorrir um dia,
embevecer-me n'alegria
de sorrisos virtuais,
mando de volta, sem demora,
breves croquis poetais...

...e meus muitos sonhos,
em rascunhos e canetas
cada vez mais pernetas.


Estácio, Rio de Janeiro
19 de março de 2008


GLOSSÁRIO

anu: pássaro preto de porte médio, muito comum na região Norte, que gosta de andar nos gramados e capoeiras a procura de insetos. também chamado de anun.

cupuaçu: fruto da região Norte, de porte grande e sabor azedo, muito apreciado pela versatilidade na preparação de sucos, sorvetes e doces.

croqui:
espécie de rascunho de um desenho de arquitetura.

esperta

André Coelho
(para Tamara Ângelo)

Uma conta,
uma cor,
uma flor.

Um jasmim,
um jardim...

Cada verso
que tentei,
não coube
o tamanho
da flor,
da conta
que canto.

Por isso,
sem espanto;
pouco pranto,
nem tanto,
deixo beijo,
beija-flor,
à rosa esperta
que um dia me fez assim,
poeta.


Estácio, Rio de Janeiro
26 de outubro de 2005

sábado, 8 de março de 2008

tabatinga

André Coelho

uma mulher quebrou-me em pedaços;
os homens pisaram;
e virei farelo piracuí.

o vento – aquele
que não se sabe de onde vem
nem para onde vai,
mas se ouve a sua voz –
bateu forte
e misturou meu pó na terra,
de onde vim.

choveu
e fui parar no igarapé
com pitiú de cobra.

mas um homem,
aliás, o filho do homem,
achou-me ali,
suja tabatinga
com restos de folhas
e ferpas de madeira.

e agora me olha enternecido,
como a cadela à sua cria,
e (meu Deus!) limpa-me
e pergunta se quero ser vaso.
e pergunta se quero ser vaso.
e pergunta se quero ser.
e pergunta se quero.
e pergunta.

quanto tempo suportarei em silêncio?


Rio de Janeiro, RJ
2006


GLOSSÁRIO

piracuí: farinha de peixe – o peixe é salgado e seco ao sol, e depois apiloado; o processo é muito comum nas populações e cidades do baixo rio Amazonas; o peixe comumente usado é o Acari, mas também pode-se fazer com carne de jacaré.

igarapé: pequeno rio amazônico; não confundir com riacho.

pitiú: cheiro forte, impregnante, normalmente de peixe. a expressão é indígena e muito usada entre os nortistas, podendo referir-se também ao cheiro de cobra, ovo cru, e odores do gênero.

tabatinga: uma espécie de argila branca, encontrada em muitos igarapés.

terça-feira, 4 de março de 2008

triste humor profético

André Coelho


Sim, confesso saudades do Rio
e das praias sem fim
de Tom Jobim.
Mas tenho cravados cá em mim
outros céus,
cheios de nuvens,
cheios de suor e chuva.

Não sei quanto tempo sobrevivo desta vez
às loucas estações do tempo carioca
(quase me fizeram trocar de pele ano passado);
a cidade enorme e insólita
me causa assombro
e me torna ríspido.

Assombrado fico também
ao de repente me ver sem Belém.
Ai, Deus, que dor no peito é esta?
Não quero ser estrangeiro
e não vou ser.

(pausa)

Mas quando, enfim, vier o que é frio,
então o mundo vai olhar para a linha do Equador.


Escrito em 27 de fevereiro de 2006, a bordo da Gol, sobrevoando Minas Gerais depois de meu primeiro retorno a Belém.

Postado hoje, quando estou a 1 dia de completar 3 anos de chegada ao Rio.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

há um Deus em tua vida

Myrtes Mathias


Quando te vejo tão acomodado ao mundo que te cerca,
como a água tomando a forma do vaso que a contém,
eu me lembro de um Rei coroado de espinhos,
arrastando uma cruz pelos caminhos,
pelas ruas de Jerusalém.

Quanto te vejo tão preocupado com rótulos e comodidades,
tão desejoso de aparecer,
eu me lembro de um jovem-Deus perdido no deserto,
onde só feras e anjos O podiam ver.

Um jovem-Deus que te entregou um dia
o privilégio da grande Comissão,
o Qual negas com tua covardia,
sucumbindo a promessas
que te falam à carne e ao coração.

Quando te vejo tão ocupado em construir celeiros,
ajuntando fortunas que o ladrão pode roubar,
em me lembro de um Deus caído sob tuas culpas
sem o conforto de uma pedra para repousar.

Quando te vejo conivente com aquilo que Ele aborrece,
ao ponto de ocultar a Herança que Ele te legou,
pergunto: Seria falsa a promessa que fizeste
ou o amor que tu Lhe tinhas era pouco
e se acabou?

Onde está teu grito de protesto, que já não escuto?
Tua atitude de inconformação?
Será que te esqueceste do santo compromisso
ou te parece pouco o privilégio da tua missão?

Por que tremes diante do mundo,
temendo por valores que só servem aqui?
Será que Cristo te escolheu em vão
ou será que já não existe um Deus dentro de ti?

Tu estás no mundo, mas não és do mundo.
Não escolheste – foste escolhido.
Por que te encolhes ao ponto
de seres grande pelo padrão dos homens,
comprometendo tua autoridade
de condenar um mundo corrompido?

Foste escolhido para uma missão tão grande
que nem a anjos foi dada a executar:
não te assustem ameaças,
não te seduzam promessas,
numa obra eterna, é melhor morrer do que negar.

Lembra-te que há um Deus em tua vida
que os teus atos devem glorificar.

MATHIAS, Myrtes. Há um Deus em Tua Vida. In: MATHIAS, Myrtes. Há um Deus em Tua Vida. 3. ed. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1986.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

de estranheza e dulçor

André Coelho
(em memória a Elza Nilander)

Vida, estranha vida:
incerta;
simples;
e linda.

Curta, como um sopro.
Larga como um rio.
Profunda como os olhos de uma criança.

E doce.
Doce.


Estácio, Rio de Janeiro.
10 de fevereiro de 2007.
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