domingo, 23 de dezembro de 2007

Deus que refaz

André Coelho


E o que estava assentado sobre o trono disse:

Eis que faço novas todas as coisas. [...]
(Apocalipse 21.5)

Vai dois mil e sete.
Chega dois mil e oito.

De que valeu tanta luta?
De que valeu tanto suor?
O mundo continua mau,
a vida continua dura,
parece que não existe amor.

Há mais de dois mil anos,
num lugar pobre e escuro,
Deus enviou ao mundo,
na forma de um bebê,
aquele que teria o poder
de fazer novas todas as coisas.

A morte desse homem,
tempos depois, numa cruz,
viria então revelar
o profundo amor de um Deus.
Um Deus que ama, que perdoa e que sara;
um Deus que desfaz e que refaz.
Deus de amor e de esperança;
Deus de graça, Deus de paz.

Que toda língua cante
a mensagem dessa cruz,
que toda mão se levante,
que todo olho contemple,
que cada homem se dobre...

Que, no ano que começa,
cada vida, ora quebrada,
seja de todo refeita.
Que, da lágrima derramada,
venha a nascer uma flor.
Que, na terra escurecida,
fatigada pela lida,
brote de novo o amor,
brilhe sempre clara luz,
seja, assim, cada um, nova vida
a cantar o Natal de Jesus.

E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. (Filipenses 2.8-11)


22 de dezembro de 2007
Rio de Janeiro - RJ

domingo, 25 de novembro de 2007

os perigos desta vida

André Coelho

(em memória ao Daniel Moutinho)
(e dedicado à tia Lucinha Chaves)


sim, são demais..
velho poeta de morais!

trocaria de lugar com os que foram
(eu não tenho problema com isso),
na hora que for, vou.

faria tão menos falta que eles.

mas não são assim as regras do jogo.
ontem foram eles. que foram.
amanhã seremos nós.
um, depois o outro.

e a vida vai prosseguir, normal e tranquila,
como todo poema triste
que se faz belo.
e uma hora acaba.


25 de Novembro de 2007
Rio de Janeiro - RJ

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

montes

os montes, ah! os montes...
contam histórias tão distantes
de açaizeiros, igarapés,
dos tempos de antes,
lembranças, sussurros e saudades
aos montes.

André Coelho
Minas Gerais, rodovia Rio-Brasília,
20 de dezembro de 2005

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

de saberes, seres e sonhares

Quem sabe o que se é, se o que se é pode não se ser?
Flor, 2007

Aquele que sonha, sabe.
Semeador, 2007

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

comentário para daniel foschetti

em resposta a Título:

não ando tão amigo da caneta. engraçado, desde o fim do ano passado, estou em pausa, uma pausa longa e profunda, em que muito pouco tenho escrito e fotografado. só a música não saiu de mim. no dia em que sair, acho que não terei mais essência do que é meu.

mas o tempo vira, o dia nasce, a noite vem e vai. e assim vamos nós, escritor. pensando. sendo. vivendo. vendo. escrevendo.

e escrevendo.

e escrevendo.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

velhos cacos

hoje me percebi, pela centésima vez,
um ser humano de projetos inacabados,
de alguns sorrisos quebrados
e sonhos desfeitos.

e pela primeira vez isto não me entristece.

"você ainda tem muito o que viver",
diriam alguns, muito experientes;

"precisa sorrir mais",
diriam outros, com cara de paisagem;

"a vida é uma caixinha de surpresas",
diria Joseph Climber.

mas minha única certeza hoje
é o gosto bom que a minha vida tem.
não por realizações, pois foram poucas.
não por dinheiro, pois não tenho.
não por saúde, quem me dera!
não por sucesso, pois nunca procurei.

o gosto bom que sinto não é por nada material ou natural;
é sobrenatural, embora real ao extremo.
é o gosto de um Deus que me criou e que me ama,
que tem um projeto pra minha vida,
que não leva em conta minhas falhas,
que leva em conta meu coração.
e me dá uma paz... mas uma paz...
que não tem tamanho!
e que excede todo o entendimento.
todo.
o entendimento.
o entendimento todo.

hoje descobri, entre velhos cacos, o que já sabia:
que meus projetos nunca foram aqueles,
que meu sorriso não é o que aparece no rosto
e que um sonho não se inventa;
se aprende.


Estácio - Rio de Janeiro, RJ
3 de outubro de 2007

terça-feira, 25 de setembro de 2007

setembro

André Coelho

24.09.2007, 14h00min.

está muito quente agora. olho pela minha janela do apartamento e vejo um céu nublado. mamãe acaba de telefonar do jardim botânico, dizendo que a temperatura está caindo, e que parece que a chuva vai desabar a qualquer momento por lá. a previsão é de queda de temperatura, 10 a 15 graus. agora deve estar uns 35°C.

setembro no sul e sudeste do Brasil é tempo de vida nova, simplesmente porque é quando voltam as chuvas, que foram embora desde junho. neste momento, tudo ainda está muito seco e quente, muita poeira, plantas mortas, grama marrom.

há uma canção do grupo brasiliense Céu na boca que compara as chuvas de setembro a Jesus, Água da Vida, que seca a fome, acaba com as cinzas da vida e não se acaba, não se acaba.

nem quero comentar o quanto meu setembro do ano passado foi diferente. 2006 foi todo diferente, foi um ano de atravessar deserto, colocar o rosto no pó, chorar e esperar o tempo de Deus.

e parece que o tempo de Deus chega, junto com a chuva deste setembro, molhando, banhando, trazendo vida verde e sol gostoso de suar.

lá fora, no céu do Estácio, nuvens cada vez mais grossas. o vento, que ainda agora batia portas e levava cortinas, agora parou. na rua, um silêncio e poucas pessoas fora de casa – carioca tem cuíra com chuva; não gosta, fica deprê.

mas eu sou do norte, sou índio, e gosto do cheiro que a chuva traz. minhas narinas já sentem de longe o cheiro que conheço muito bem, e não preciso nem olhar de novo pela janela pra saber que ela não tarda.

não preciso nem olhar de novo pela janela da minha vida
pra saber o quanto a chuva está próxima;
é água de beber e de banhar, de encharcar.
água fria de igarapé com chuva,
cercado de árvores vivas.
água viva.


--

25.09.2007, 2h00min.

choveu.
agora faz 19°C.

e chove, e chove,
chove sem parar...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

na cidade

André Coelho

hoje almocei com gal.
depois de conversarmos um bocado,
gal falou-me, em tom de confidência:
- só louco amou como eu amei,
só louco quis o bem que eu quis...


e eu respondi:
- baby, baby, eu sei que é assim.

foi quando chegou o zeca, com um violão:
- ando tão à flor da pele
que qualquer beijo de novela me faz chorar...


e aquele almoço não foi mais o mesmo.
strogonoff de carne a la mole.
piccolo, pra ser mais específico.
e todas aquelas canções...
tantas canções...
e a vida.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

pedra do reino (impressões de uma viagem a taperoá)

andré coelho


0
14:10
uma voz
"a pessoa não é influenciada pelo que lhe é alheio..."
[Ariano Suassuna]

a tecnologia não colabora.

14:15
"vamos precisar de todo mundo,
um mais um é sempre mais que dois.
pra melhor juntar as nossas forças,
é só repartir melhor o pão.
recriar o paraíso agora
para merecer quem vem depois..."
[beto guedes]

14:25
chegamos;
o que me aguarda?
eu mesmo?
outro mundo?

"olhar a exposição com paixão e interesse..."

vou reencontrar minha avó baiana?
e de que matéria sou feito, afinal?...

vamos então a Taperoá!...


1.
fita
bonita
que me agita...
engraçado...
algo em mim palpita?

"encomendei, fui buscar
laços de flores pra te dar,
comprei céu de estrela, bordei sol,
flores de prata, tudo pra te dar..."
[marco andré]


2.
A Pedra do Reino
Cidade de Taperoá
Sertão da Paraíba
ano de 2006

um labirinto,
intestinal...
onde tudo começa.
dentro da grande casa de tijolinhos...


3.
fazenda Acahuan!
começo a encontrar meu Brasil
Paraíba - Pará
Bahia...?
Pernambuco!
capital: Recife!
e Ariano encontra vovó.

ah, meu século XIX!!...
estão falando em alguém,
um certo senhor Quaderna
que ainda não conheço.


4.
estamos na rua
ou praça principal.
uma carroça,
um portal.

reco-reco...
"é pra abrir?
abriu!"

e piso a terra vermelha,
terra seca, partida,
porém cheia de vida.

"lá no desvão do nordeste,
a vida não vale o nome,
é gente que nasce e cresce
pra dividir sede e fome."

não sei, djavan,
a fome motiva a busca,
então?
a busca lhe dá vida?
lhe dá arte?

a música que ouço...
ela tem fôlego!
ela chora e ri,
encanta em arabescos nordestinos!


5.
madeira,
lata,
palito de picolé.
dança a vida de Ariano,
que, no fundo, minha é.
dança a vila
"artesanada";
vem a onça caetana,
(barro e cal não importam),
caetana tem sua porta.
vila e vida, sim, de André.


6.
Ariando, sigo.
mergulhado no DNA
do mundo tão vivo
de Taperoá.


Rio de Janeiro
19 de junho de 2007

exposição A Pedra do Reino

quinta-feira, 31 de maio de 2007

crua

André Coelho

enquanto pessoas morrem, mortas,
pára e pensa em quantas portas
deixaste de abrir.

em meio a tanto sangue,
vê que o teu já se mistura
a essa massa impura.

tua faca, sem fio;
tua luz, apagada;
teu, sal, estragado;
teu brilho, sombrio.

pois quê? se disseste "não",
foi opção tua:
espírito vazio,
carne crua...

boa sorte!


Estácio, Rio de Janeiro
16 de julho de 2006

terça-feira, 24 de abril de 2007

triste humor profético

André Coelho

sim, confesso saudades do Rio
e das praias sem fim
de Tom Jobim.
mas tenho cravados cá em mim
outros céus,
cheios de nuvens,
cheios de suor e chuva.

não sei quanto tempo sobrevivo desta vez
às loucas estações do tempo carioca
(quase me fizeram trocar de pele ano passado);
a cidade enorme e insólita
me causa assombro
e me torna ríspido.

assombrado fico também
ao de repente me ver sem Belém.
ai, Deus, que dor no peito é esta?
não quero ser estrangeiro
e não vou ser.

(pausa)

mas quando, enfim, vier o que é frio,
então o mundo vai olhar para a linha do Equador.


a bordo da Gol, sobrevoando Minas Gerais
27 de fevereiro de 2006

segunda-feira, 26 de março de 2007

minas, 20.12.2005

André Coelho

bonitos são os montes;
calados, pacíficos,
ora pelados, ora tomados de mata,
ora cobertos de luzes de um bairro,
ora com uma cruz ou cristo solitário.

em sua imponência e imensidão,
são frágeis,
mais que as gentes,
e doam tanto de si mesmos!...
como cristos em cruzes.

em sua perfeição,
anunciam quem os criou
e de onde vem o socorro
(a eles também? espero...);
e prenunciam céus azuis,
nuvens brancas e pretas,
sol, chuva e trovões,
e os escondem,
como querendo nos proteger.

é... bonitos são eles!


*em uma cidadezinha qualquer entre JF e BH... - Minas Gerais
20 de dezembro de 2005

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

meu pé direito

André Coelho

um dia descobri que andando se chega a qualquer lugar
e comecei a andar...

cheguei no Rio de Janeiro, em Curitiba...

sei que tem muito mais a se andar
sei que meus pés já não são os mesmos do início da caminhada;
sei que não sou Forrest Gump,
mas gosto de contar histórias;
sei que um tênis ajuda muito
e que o frio é mais quente do que parece...
e o calor, mais frio...

descobri que todos os ventos que engolem cidades no ar
sempre me levarão a Belém,
de onde me trouxeram.

sei que meus passos um dia vão terminar.
neste dia, quero ter andado o suficiente
pra poder dizer que aprendi a não tropeçar,
como tropecei e ainda tropeço.
neste dia, estarei deitado de sapatos - como Mário Quintana -
mas, em outro lugar, alguém me receberá em casa.

e descobrirei que só consegui andar
porque desde o início,
embora talvez eu nunca houvesse percebido,
aqueles passos não eram meus.


Flog do Semeador - Rio de Janeiro, RJ
07 de julho de 2005

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

enquanto alguém semeia...

André Coelho

vozes gaiatas e boêmias na madrugada.
um tiro.
outro tiro.
e o silêncio.

e o Rio de Janeiro continua lindo...


Estácio - Rio de Janeiro, RJ
08 de setembro de 2005

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

são Teus pés

André Coelho

são Teus pés a que me curvo,
mesmo mais torto meu caminho,
mesmo o dia mais turvo.

quando me aperta o espinho,
quando de noites me cubro,
quando sozinho,

são Teus pés a que me rendo,
pois os meus já não me ajudam,
e enfim paro, vejo, entendo
que, quando pensamentos me acusam,

são Teus pés que me sustentam
sem mais culpa, mentira, remendo;
feridos e descalços, porém firmes,
são Teus pés.


Julia Seffer - Belém, PA
28 de Dezembro de 2005

*dedicado em 28.12.06 à memória de Samuel de Andrade Barros






quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

semeio (ainda que)

André Coelho

ainda que seque a flor,
semeio.

por toda a terra sem água,
tanta febre quanta for,
ou pura tristeza e mágoa.

ainda que à própria vida,
já por inteiro esgotada
de toda vida quanto há,
falte um sorriso, que falte lar,
ou falte o leite no seio,
ainda que tudo vá.
que tudo vá.

semeio.


Lança o teu pão sobre as águas,
porque depois de muitos dias o acharás.
Reparte com sete, e ainda até com oito,
porque não sabes que mal haverá sobre a terra.
(Coélet, Eclesiastes 11.1-2)


postado em http://papaxibe.flogbrasil.terra.com.br/
30 de julho de 2006 -
Rio de Janeiro, RJ
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